sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Fw: Câmara gastou R$ 78,5 milhões só com verba indenizatória

URL: http://congressoemfoco.ig.com.br/Noticia.aspx?id=20715

Camilla Shinoda e Eduardo Militão

A Câmara dos Deputados gastou R$ 78,5 milhões com a verba indenizatória
desde o início da atual legislatura – de fevereiro a dezembro do ano
passado. Os dados são de levantamento do Congresso em Foco, feito entre
7 e 14 de janeiro, a partir de informações que a Casa publica na
internet. O dinheiro é usado pelos parlamentares para ressarcir
despesas com combustível, locomoção (diárias e refeições, por exemplo),
divulgação do mandato, consultorias, aluguel de escritórios políticos,
material de expediente, serviços de segurança e assinatura de
publicações, TVs a cabo, internet e programas de computador.

No ano passado, a maior parte da verba foi usada com combustível e
locomoção. Com esses dois itens, foram consumidos quase R$ 36 milhões,
o equivalente a 46% de toda a verba indenizatória. Cada deputado tem
direito a gastar até R$ 15 mil por mês. Não estão computadas aí as
passagens aéreas, que os parlamentares recebem à parte. Os senadores
têm esses mesmos benefícios, mas o Senado não divulga em que nem quanto
cada um deles gasta.

No caso dos combustíveis, o reembolso é limitado a 30% de toda a verba,
ou seja, a R$ 4.500. Esse valor foi reduzido em 2006 por conta de uma
série de denúncias de uso de notas frias para comprovar gastos com
gasolina, álcool e lubrificantes. GASTOS DA VERBA INDENIZATÓRIA

TABELAS COMPLETAS
por Deputado – Quem gastou 100%
por Estado – por Partido
por Locomoção – por Combustível
por Consultoria – por Divulgação

Fonte: Congresso em Foco, com base em informações da Câmara dos
Deputados, referentes ao período de fevereiro a dezembro de 2007

Pé na estrada

Em 2007, os deputados gastaram R$ 16,4 milhões apenas com combustível.
Isso equivale a 6,5 milhões de litros de gasolina, cotada a um valor
médio de R$ 2,50. Considerando-se o consumo de um automóvel de 10
quilômetros por litro, seria possível viajar 65 milhões de quilômetros.
Daria para ir à lua e voltar 86 vezes.

O terceiro lugar nas despesas ficou por conta da rubrica que inclui
consultorias, pesquisas e trabalhos técnicos. Foram R$ 12,8 milhões, ou
seja, 16% do total da verba indenizatória. Gastos semelhantes foram
totalizados com a divulgação parlamentar, que consumiu R$ 12,5 milhões.

Duas propostas para acabar com a verba acabaram não vingando na Câmara.
Os Projetos de Resolução 328 e 329, de 2006, pretendiam extinguir o
pagamento do benefício aos deputados. O autor de uma das propostas, o
líder do PDT, Miro Teixeira (RJ), afirma não ser razoável receber
ressarcimento de consultorias, já que a Câmara tem funcionários
específicos para isso.

Além disso, o deputado lembra que os parlamentarem já recebem
benefícios como verba de gabinete (R$ 50 mil), auxílio-moradia (R$ 3
mil), passagens aéreas (de R$ 4 mil a quase R$ 19 mil) e cota postal e
telefônica (R$ 4,2 mil).

Para Miro Teixeira – que nem tocou no benefício no ano passado –,
certos gastos com a verba são "ofensivos ao princípio da
razoabilidade". Mas a proposta dele foi arquivada no início do ano
passado. O segundo projeto, de autoria da Mesa, foi retirado de pauta.

Para o deputado Fernando Lopes (PMDB-RJ), a verba indenizatória é uma
"quase uma remuneração por fora" para os parlamentares. Por isso, ele é
a favor da extinção gradativa do benefício e da divulgação de cada uma
das notas de ressarcimento. "A falta de transparência dá margem a usos
indevidos, que acaba alcançando todos", disse ele, que, assim como
Miro, também não usou a verba no ano passado.

Controverso

Nem todos pensam como eles. O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves
(RN), defende a manutenção do benefício. "Ela é útil, sim, se bem
fiscalizada, embora haja abusos e distorções", disse ele ao Congresso
em Foco. O deputado considera importante a manutenção dos escritórios
parlamentares nos estados. "Quando o deputado está em Brasília, tem
alguém no estado trabalhando por ele", ressaltou.

Gustavo Fruet (PSDB-PR) afirma que os parlamentares sem estrutura
econômica dependem da verba para trabalhar. "O controle sempre é
necessário para evitar desvios, pois eles põem em dúvida a verba usada
por todos os deputados."

Fruet diz ser a favor da redução ou do congelamento da verba
indenizatória. Ele admite discutir a extinção do benefício. "Podemos
pensar nisso", avaliou, ressaltando a necessidade da apresentação de
uma proposta para compensar a perda. "Como aumentar os salários ou
cobrar imposto de renda sobre essa verba", exemplificou.

O líder do PMDB discorda. Na opinião de Henrique Eduardo, os dois
assuntos não devem ser misturados. "Aumentar os salários dá margem de
distorção. A verba deve ficar como está, bem fiscalizada", afirmou o
deputado, que é primo do presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho
(PMDB-RN).

Custo da máquina

Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Octaciano
Nogueira, discutir a verba indenizatória é pouco. Ele defende uma
avaliação institucional de todos os custos da máquina administrativa
nos três poderes. "Há o negócio dos cartões corporativos, o pessoal da
Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] que viaja de graça...", citou
o professor.

Nogueira, que foi funcionário da Câmara e do Senado entre 1952 e 1990,
acredita que há um exagero nos gastos do Congresso. "A Câmara tinha
[até os anos 60] 304 deputados e 325 funcionários. Hoje são 513
deputados e 13 mil funcionários. Isso aqui é um desperdício", avaliou.

Nos anos 50 e 60, só o presidente e o primeiro-secretário da Câmara
tinham gabinetes próprios. Os vice-presidentes e os secretários da Mesa
dividiam uma sala comum. "Os outros deputados recebiam as pessoas num
salão e nos corredores", relembrou Nogueira.

Criação

A verba indenizatória foi criada em 2001, pelo Ato 62 da Mesa Diretora,
na gestão do tucano Aécio Neves (MG), hoje governador de Minas Gerais.
Os deputados tinham direito a R$ 12 mil por mês. Hoje são R$ 15 mil. O
valor não utilizado no mês anterior se acumula para o próximo dentro de
cada semestre. Em 2006, após o escândalo das notas frias, as despesas
com combustível foram limitadas.

Em junho do ano passado, uma decisão liminar da juíza Mônica Sifuentes,
da 3ª Vara da Justiça Federal de Brasília, conseguiu suspender a verba
indenizatória provisoriamente. Ela argumentou que os ressarcimentos aos
deputados e aos senadores – que também têm o benefício, embora não o
divulguem – eram indevidos porque já estariam contemplados com outras
prerrogativas dos congressistas.

"A verba em comento não violaria apenas o art. 39, §4º, da CF/88, mas
também, e essencialmente, o princípio da moralidade administrativa",
disse a juíza, à época. Dias depois, a decisão de Mônica foi suspensa
pelo Tribunal Regional da 1ª Região.

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