Lúcio Lambranho e Eduardo Militão
O Congresso em Foco enviou e-mail para todos os parlamentares
contemplados com doações de campanha da indústria de bebidas. E
procurou diretamente a assessoria dos cinco deputados e dos cinco
senadores que mais receberam recursos do setor.
No Senado, o maior beneficiário da indústria de bebidas alcoólicas foi
o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Aloizio
Mercadante (PT-SP). Em sua frustrada campanha ao governo de São Paulo,
em 2006, o senador recebeu um total de R$ 350 mil, sendo R$ 300 mil do
grupo Ambev e R$ 50 mil da Cervejaria Petrópolis.
Por meio de sua assessoria, Mercadante disse ao Congresso em Foco que
as doações não condicionam suas "convicções de voto" e que votará com o
governo para restringir a propaganda de bebidas alcoólicas.
Chegou tarde
Candidato a presidente da República pelo PDT em 2006, o senador
Cristovam Buarque (DF) sustenta que os R$ 150 mil doados pela Ambev
para sua campanha eleitoral não terão peso algum no momento de votar as
duas propostas que contrariam os interesses das cervejarias.
"Acho que esse projeto de lei chegou tarde no Congresso. Vou votar com
o governo. Não há absolutamente numa relação entre a doação e o meu
voto. Quando foi feita a doação me disseram que estavam contribuindo
com um candidato comprometido com a educação no Brasil", contesta
Cristovam Buarque.
O líder do PSDB no Senado, senador Arthur Virgílio (AM), também garante
que os R$ 150 mil recebidos para sua campanha ao governo do Amazonas
não terão nenhuma influência na apreciação das duas proposições
enviadas pelo governo.
Ajuda indispensável
"Nas atuais características do sistema político brasileiro, somente os
ricos – riqueza em muitos casos mal explicada – podem fazer campanha
eleitoral sem a contribuição financeira de amigos e de empresários.
Como meu pai e meus avós fizeram a opção pela honradez – e eu também –
não nasci rico nem sou rico", justifica Virgílio.
"Não posso prescindir, portanto, desse tipo de colaboração. Mas nem eu
me sujeitaria, por isso, a comprometer meu voto nem, com a mais
absoluta certeza, as empresas que generosamente me ajudaram, imaginaram
poder influenciar meu comportamento parlamentar. Só tenho compromissos
com o povo amazonense, que me orgulho de representar no Senado, e com
os interesses do país", completa o senador do PSDB.
Na Câmara, apenas dois deputados retornaram os contatos da reportagem.
Alexandre Santos (PMDB-RJ), que recebeu R$ 150 mil do grupo
Schincariol, foi um deles. "Não tive acesso ao projeto de lei, e por
esse motivo ainda não tenho uma opinião a respeito do mesmo. A doação
não terá influência, votarei dentro das minhas convicções políticas",
afirma o deputado, em referência ao projeto que restringe a publicidade
de bebidas alcoólicas no rádio e na TV.
Situação gravíssima
Também por meio de sua assessoria, o deputado Carlos Alberto Leréia
(PSDB-GO) disse que apóia ações que venham a coibir o abuso de bebidas
alcoólicas. "O fato de ter recebido doações de campanha de indústria
que, entre outros produtos, fabrica bebidas alcoólicas não altera o
posicionamento frente ao uso problemático da bebida, principalmente em
relação ao gravíssimo fato de o álcool estar sendo consumido a cada ano
por pessoas mais jovens", diz a nota encaminhada pela assessoria do
parlamentar.
Ainda por meio de sua assessoria, Leréia afirma que o projeto do
governo "é benéfico à medida que amplia o leque das bebidas
consideradas alcoólicas, entretanto é necessário que se faça acompanhar
de medidas sócio-educativas por parte do poder público de forma a
informar e incentivar o debate na sociedade".
João Paulo
Dono da campanha que mais recebeu recursos da indústria de bebidas na
Câmara, o deputado João Paulo Cunha (SP) não retornou os recados
deixados pela reportagem com sua assessoria.
O ex-presidente da Câmara recebeu R$ 400 mil da Schincariol. De todos
os políticos eleitos em 2006, só o governador da Paraíba, o tucano
Cássio Cunha Lima, angariou mais recursos da indústria de bebidas – R$
430 mil, também da Schincariol.
João Paulo é alvo de ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) por
envolvimento no escândalo do mensalão. Ele responde a processo pelos
crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato.
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