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O ano de 2009 começa com uma nova forma de escrever em língua portuguesa. A mais nova reforma ortográfica elimina acentos gráficos em prol de uma padronização da escrita dos oito países que adotam o português como língua oficial. Formam a comunidade lusófona os seguintes países: Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Neles vivem aproximadamente 230 milhões de pessoas.
A partir de hoje (1º) tem início no Brasil o chamado período de transição, que vai até o ano de 2012. Até lá, as duas formas de grafar no idioma de Camões estarão em vigor. A partir de 2012, apenas será aceita a nova maneira.
Uma das principais mudanças diz respeito ao fim do trema (acento gráfico específico da vogal “u”) em todas as palavras. Ou seja, a partir de 2009 será permitido escrever linguiça, em vez de lingüiça. Ou frequência em vez de freqüência. O alfabeto passará a ter 26 letras, com a inclusão oficial de “k”, “w” e “y”.
Também será abolido o uso de acento circunflexo nas palavras terminadas em êem e ôo (ou ôos). Exemplo: crêem, vêem, lêem passarão a ser escritas da seguinte forma: creem, veem, leem. O mesmo princípio se aplica para palavras como vôo e enjôo, que passarão a ser grafadas como voo e enjoo.
O acento diferencial também vai acabar. Dessa forma, palavras como pára, pêlo e pêra, serão escritas da seguinte maneira: para, pelo e pera.
Em outro ponto da reforma desaparecem os acentos agudos nas palavras paroxítonas, aquelas cuja penúltima sílaba é a mais forte. Dessa forma, as palavras assembléia, Coréia, idéia e jibóia serão grafadas dessa forma: assembleia, Coreia, ideia e jiboia.
É válido destacar que o que muda nessa reforma é a o ato de escrever determinadas palavras. Portanto, permanecerá inalterada a maneira de pronunciar essas palavras que sofrerão apenas alterações gráficas.
Hífen
A alteração na forma de escrever determinadas palavras também atingirá o hífen. Será necessário usar esse instrumento, por exemplo, quando a palavra seguinte ao hífem começar com “h” ou com vogal igual à última da palavra anterior. Exemplo: mini-hotel, anti-imperalista, micro-ondas.
Também será necessário utilizar o hífen quando a segunda palavra começar com “h” ou com “r”. Exemplo: super-homem, inter-racial. No caso de palavras compostas iniciadas por “vice”, sempre será necessário utilizar o hífen. Exemplo: vice-presidente.
Contudo, o hífen vai sumir de determinadas palavras, que ganharão mais uma letra em sua grafia. Exemplo: antissocial, minissaia e minirreforma.
Integração
No Brasil, a reforma ortográfica foi assinada pelo presidente Lula no dia 29 de setembro deste ano, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Na ocasião, Lula estava na Academia Brasileira de Letras (ABL), participando de sessão solene em homenagem ao centenário da morte do escritor Machado de Assis, aclamado como o maior expoente da literatura brasileira.
Segundo o presidente, a reforma ortográfica da língua portuguesa tem “uma importância maior do que pode parecer à primeira vista”, notadamente na integração brasileira com outros países lusófonos.
Naquela ocasião, o presidente brasileiro citou as relações bilaterais com Portugal, mas ressaltou os “laços substantivos” entre Brasil e a África de língua portuguesa.
“Para nós representa mais, muito mais do que uma prioridade geopolítica. Diz respeito à nossa alma, à nossa identidade como nação multiétnica e multicultural, ao próprio destino da civilização brasileira e é o reencontro do Brasil com algumas de suas raízes mais profundas, não raro recalcadas. Nesse sentido, podemos dizer que é o reencontro do Brasil consigo mesmo”, afirmou.
Lula destacou as parcerias educacionais “em todos os níveis” com nações africanas e resumiu o sentido dessa reforma ortográfica numa maior aproximação com os países daquele continente.
“Mas como avançar nesse rumo sem fortalecer a nossa base lingüística comum? Como difundir em cada país a rica literatura dos demais e sua variada produção intelectual sem a adequada padronização da língua escrita? Como produzir, por exemplo, material didático compartilhado, em escala massiva, sem a unificação da ortografia?”.
Interesse político
Assinado em 1990, o acordo ortográfico enfrentou forte resistência, sobretudo, em Portugal, onde as mudanças na grafia vão atingir cerca de 1,5% das palavras utilizadas no país. No Brasil, as alterações não afetam 0,5% dos vocábulos. O Parlamento português aprovou o acordo apenas em maio deste ano. Por lá desaparecerão, por exemplo, o “c” e o “p” em palavras como “acto”, “acção”, “ótimo” e “Egipto”. Antes, Brasil, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde já haviam assinado o acordo antes.
Os defensores das mudanças argumentam que a padronização uniformizará termos jurídicos utilizados em contratos internacionais e abrirá caminho para que o português se torne, em breve, uma das línguas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU), incorporando-se aos seis idiomas considerados oficiais pela instituição: o inglês, o espanhol, o francês, o árabe, o mandarim e o russo. (Rodolfo Torres)
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