Um em cada quatro brasileiros é a favor da tortura
A tortura de suspeitos para se obter informações que ajudassem no
combate ao crime é apoiada por 26% dos brasileiros. O número foi
revelado por pesquisa feita pela agência Nova S/B em parceria com o
Ibope e divulgada neste domingo (9/3) pelo jornal O Globo.
As classes de maior poder aquisitivo e com maior escolaridade são as
que mais apóiam a tortura. Entre aqueles com renda superior a cinco
salários mínimos, o índice dos que defendem a prática chega a 42%. Já
entre os que ganham até um salário mínimo, o número é de 19%. Entre os
que têm curso superior, o índice é de 40%.
Para o presidente da OAB, Cezar Britto, o resultado da pesquisa é
reflexo da situação de estado policial do país. "Infelizmente um dos
graves reflexos do estado policial que vive o Brasil atualmente é criar
a cultura autoritária, e de uso da violência como solução dos problemas
que atingem a sociedade. Apoiar métodos de tortura e conseqüência desse
clima autoritário de fortalecimento do estado policial que se espalha
não apenas no Brasil mas por vários países, inclusive de primeiro
mundo", afirma Britto.
A pesquisa, para o presidente da OAB, serve de alerta para o Brasil que
precisa criar uma cultura de paz antes que a minoria se torne maioria.
"A tortura é um crime contra a humanidade. Espera-se que no Brasil mais
uma vez se repita o jargão; tortura nunca mais", afirmou Britto.
Para o presidente da OAB do Rio de Janeiro, Wadih Damous, a pesquisa
mostra que há um alto grau desconfiança entre os cidadãos. Segundo o
advogado, o baixo grau de cultura cívica traduz uma desconfiança dos
brasileiros em relação às instituições públicas.
As instituições "contribuem, sobremaneira, com esse quadro e o
retroalimentam, por se omitirem na construção de um componente
pedagógico a ser disseminado pela população. Algumas instâncias do
Estado brasileiro dão pouca importância às demandas dos direitos
humanos; considera alguns assassinatos praticados por agentes públicos
como razoáveis", afirma Damous.
Para ele, faltou ser perguntado entre aqueles que apóiam a tortura se a
defenderiam se o torturado fosse um parente ou um amigo.
Já o secretário Especial de Direitos Humanos da Presidência da
República, Paulo Vannuchi, disse ao jornal que não considerou os dados
tão graves. Ele previa que mais gente apoiasse a tortura como método de
investigação.
A pesquisa também sondou sobre o preconceito de raça e orientação
sexual. No caso de descobrirem que um amigo é homossexual, 33% dos
entrevistados afirmaram que se afastariam dele.
Do total de entrevistados no estudo, 78% afirmam que não bebem quando
dirigem, enquanto apenas 19% admitem beber. --
http://conjur.estadao.com.br/static/text/64527,1
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