Em entrevista coletiva encerrada há pouco, o ministro das Relações
Exteriores, Celso Amorim, destacou que o Brasil trabalha para acabar
com o confronto entre Colômbia e Equador. "A situação é grave. Qualquer
violação de integridade territorial é muito grave... É condenável",
disse, acrescentando que o Equador suspendeu as relações diplomáticas
com a Colômbia. A informação chegou ao chanceler uma hora antes do
início da coletiva.
Amorim repetiu diversas vezes que o Brasil tem interesse na paz da
região, e que conversou com diversos ministros sul-americanos e com o
secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a
crise diplomática.
O conflito entre os dois países sul-americanos começou no último
sábado, após uma operação militar na fronteira entre a Colômbia e o
Equador, que resultou na morte do porta-voz e número dois das Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Raúl Reyes. O guerrilheiro
foi morto pelo exército colombiano em território do Equador.
Segundo Amorim, o presidente Lula conversou por telefone com o
presidente da Colômbia, Álvaro Uribe; e com o presidente equatoriano,
Rafael Correa, "com o objetivo de buscar alguma convergência possível".
O Chanceler ressaltou que um pedido de desculpas "mais explícito" do
governo colombiano ao Equador pode ajudar na solução do confronto. "O
Equador considerou insuficiente o pedido de desculpas da Colômbia",
explicou.
Ontem, o chanceler colombiano, Fernando Araújo, pediu desculpas pela
invasão, destacando que o governo de seu país classificou a operação
como uma "ação em que se viu obrigado a se adiantar na zona de
fronteira". Segundo ele, o governo Uribe não teve a intenção de violar
a soberania da "irmã República do Equador".
Por sua vez, o presidente equatoriano, Rafael Correa, anunciou ontem,
em pronunciamento em cadeia de rádio e TV, a expulsão do embaixador da
Colômbia, Carlos Holguín. "O Equador foi agredido por parte de um
governo estrangeiro, situação extremamente grave e intolerável", disse.
"Essa é a mais grave agressão que o governo do presidente Uribe
ocasionou ao Equador. Não permitiremos que isso fique impune",
complementou.
OEA
O ministro brasileiro destacou que a OEA é o foro adequado para
discutir o impasse, uma vez que tem normas jurídicas "mais acabadas"
sobre o tema. Amanhã (4) ocorrerá uma reunião de embaixadores da OEA,
em Washington (capital dos Estados Unidos), para tratar do assunto.
Para ele, a criação de uma comissão internacional de investigação, além
da visita aos dois países por parte do secretário-geral da OEA, podem
ajudar na solução do confronto. Amorim explicou que os dois lados dão
versões diferentes para o episódio. Apesar de reconhecerem a invasão,
os colombianos destacam que avançaram cerca de 10Km no território
equatoriano por legítima defesa e combate ao terrorismo.
Já o Equador afirma que a invasão foi planejada, uma vez que os
colombianos sabiam que o porta-voz das Farcs estava em território
equatoriano. Amorim explicou que os tratados de relações internacionais
atenuam as invasões territorias nos casos de legítima defesa e
"perseguição quente". Contudo, cabe ao invasor o ônus da justificativa.
Participação do Brasil
O chanceler brasileiro classificou de "muitíssimo remota" a
possibilidade de o Brasil se envolver em um conflito armado, devido à
crise entre Colômbia e Equador. "Não creio que será necessária",
resumiu. Amorim também destacou que a movimentação de tropas
brasileiras para a região não foi tratada na reunião desta manhã do
conselho político, no Palácio do Planalto, que discutiu o confronto
entre os países vizinhos. Segundo ele, o ministro da Defesa, Nelson
Jobim, não participou do encontro.
"Queremos a paz no continente", disse, ressaltando que o Brasil mantém
boa relações com Colômbia e Equador, e que o governo brasileiro adotará
uma postura neutra no impasse.
Venezuela
Celso Amorim evitou falar sobre a participação da Venezuela no
conflito, afirmando apenas que não teve contato com o chanceler
venezuelano. "Os envolvidos são Colômbia e Equador", resumiu.
Após a invasão do Equador, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez,
criticou seu colega colombiano, que é aliado dos Estados Unidos. Chávez
determinou o enviou de tropas para a fronteira com a Colômbia, além do
fechamento da embaixada venezuelana em Bogotá. (Rodolfo Torres)
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