sábado, 29 de março de 2008

Fw: A “asiatização” dos empregos no Brasil

URL: http://congressoemfoco.ig.com.br/Noticia.aspx?id=21577

Osvaldo Martins Rizzo*

Desarrumada pelas altas do petróleo na década de 70, a economia dos EUA
viveu um período de estagflação com a inflação anual beirando os 15%.
Nixon tabelou preços e salários. Uma forte recessão baixou os preços.
Mas foi durante os anos 80 – na gestão do republicano Ronald Reagan
(ex-ator de Hollywood) – que a economia norte-americana sofreu uma
importante mudança estrutural.

As teorias neoliberais da Escola de Chicago foram aplicadas para mudar
o principal foco da política econômica que passou a ser a alta
artificial dos preços dos ativos, e não mais a preservação do poder
aquisitivo dos salários reais. Antes da sideral alta dos preços do
petróleo, a keynesiana ação governamental buscava o pleno emprego e a
real alta da remuneração do trabalho como contrapartida aos ganhos
empresariais da produtividade obreira, um desenvolvimento sustentado e
socialmente justo.

A doutrina liberal/monetarista prega que moeda na mão do povo infla os
preços. Para contê-los, o presidente/ator escolheu o que favorecia aos
interesses do grande capital. Deveras, o que reduz a inflação é o
excesso de oferta. Reprimir a demanda só adia o fenômeno. Ao estagnar
os salários e subir os preços dos ativos, concentrando riqueza, Reagan
gerou o embrião das várias "bolhas" que se seguiram (dos imóveis; dos
junk bonds; das empresas ponto-com; das hipotecas; etc). A próxima
bolha a explodir será a das commodities que viraram ativo financeiro
especulativo deixando de ser simples matéria-prima.

Para se reeleger e eleger seu sucessor (Bush pai), o ator/presidente
trocou o ganho real dos salários pelo farto crédito ao consumo. O
eleitor médio foi tapeado com a ilusão de que prosperava quando,
contabilmente, empobrecia. O auto-sustentável ciclo keynesiano foi
mudado para o rito neoliberal do endividamento crescente da população,
alegrando banqueiros ávidos pelos lucros obtidos ao emprestarem
dinheiro caro para as pessoas comprarem qualquer coisa. O sistema
produtor/distributivo foi substituído pelo financista/concentrador.

Mesmo originando uma hoje indisfarçável massa de pobres no país mais
rico do mundo – como efeito de um sistema instável onde o crescimento
econômico depende do crescente endividamento do cidadão médio junto com
a especulativa alta do preço dos ativos –, o canastrão Ronald fez
discípulas algumas autoridades econômicas de certos países
presunçosamente ditos "emergentes", como o Brasil.

Combater o desemprego compõe o rol dos deveres constitucionais dos
governantes brasileiros regrado pela Carta Magna Pátria que, em seu
artigo 170/VIII, inclui a busca do pleno emprego entre os princípios
gerais que devem reger a atividade econômica. Todavia, só trabalho não
basta. É preciso remunerá-lo dignamente para, concretamente, ter-se
desenvolvimento sem imitar as bolhas especulativas estrangeiras, como a
atual da construção habitacional nas grandes cidades.

Do início dos anos 80 até meados desta década, o trabalhador foi
oprimido por um gigantesco arrocho salarial de fazer corar até mesmo os
velhos udenistas. O real poder aquisitivo do salário médio do
brasileiro caiu cerca de 20%. Só entre 1.995 e 2.005 os ganhos
salariais despencaram 4% em proporção ao PIB.

Os bons empregos minguaram e a rotatividade explodiu. Para ilustrar: em
2007, 14,3 milhões de pessoas foram admitidas e 12,7 milhões,
demitidas. Crescem os gastos com seguro-desemprego e abono bancados
pelo estoque do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), ameaçando a sua
solvência e o funding do BNDES.

A classe obreira empobreceu, sendo a única vítima dos erros crassos das
diversas equipes econômicas que se revezaram no estéril exercício
acadêmico de testar teorias liberais em cobaias brasileiras.
Estranhamente, o Poder Judiciário calou-se sobre isso, e esses
impuníveis algozes continuam soltos e, pasmem, prestigiados.

A pouca produtividade e especialização são causas dos baixos salários
conseqüentes do pouco tempo de permanência no emprego. O desemprego vem
caindo como fruto da proliferação dos empregos de má qualidade
remunerados indignamente. Noutras palavras, ocorre a "asiatização" dos
empregos onde cada vez mais trabalhadores recebem salários medíocres. A
quinta maior empregadora brasileira é uma call center que ocupa
mão-de-obra jovem e baratíssima sem qualquer perspectiva de aprendizado
e melhoria remuneratória.

Paralelamente, como manda o modelo Reagan de troca de bom salário por
dívidas, o grau de endividamento do cidadão comum disparou. Segundo a
Federação do Comércio paulista, metade dos paulistanos está fortemente
endividada. Os mais mal remunerados (ganham até três salários mínimos)
lideram o ranking dos maiores pagadores de juros bancários que, de tão
altos, fazem inveja a qualquer agiota. *Osvaldo Martins Rizzo é
engenheiro e ex-conselheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES).

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