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Diferentemente da filha do publicitário Guilherme Henrique Sodré Martins, suposto lobista do banco Opportunity e um dos investigados na Operação Satiagraha, a maioria dos brasileiros não tem nenhuma “colher de chá” na hora de obter um visto para os Estados Unidos. Segundo a embaixada ameri-cana, ninguém consegue viajar para o país de maior economia do mundo se não desembolsar entre R$ 250 e R$ 400 e esperar pelo menos três meses. Estudantes podem obter a autorização de viagem em três dias. Nada disso, porém, garante que o visto será liberado. | |
Com a filha de Guilherme Sodré, o Guiga, foi diferente. Segundo admitiu o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, ele ofereceu uma “grande ajuda” à filha do amigo para que ela obtivesse o visto mais rapidamente. “Eu liguei na embaixada e pedi para antecipar a audiência”, afirmou Heráclito à Folha de S.Paulo.
Um grampo telefônico autorizado pela Justiça mostra que, em 27 de março, Guiga agradece os serviços prestados por Heráclito na embaixada. “Todas as pendências foram resolvidas”, disse o publicitário para o senador. Segundo Heráclito, a conversa não tratou nada relacionado ao grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, mas apenas "uma questão de amizade".
Questionado pelo Congresso em Foco, o senador evitou comentar se sua posição como presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado o impediria de fazer esse tipo de favor a amigos. "Fui orientado por meus advogados para não falar sobre isso", afirmou.
A reportagem pediu os detalhes do trâmite para antecipar a entrevista da filha de Guiga. “Você quer envolver a embaixada dos Estados Unidos?”, respondeu Heráclito, antes de desligar o telefone.
A assessoria da embaixada americana informou que existe uma possibilidade de se antecipar uma entrevista, solicitando um visto de emergência. Nesse caso, a resposta do consulado sai em 48 horas, concedendo ou não a audiência.
Apesar disso, a embaixada não revelou se esse foi o caso da filha de Guiga. As autoridades americanas prometeram responder se a instituição quebrou suas próprias regras ao atender a um pedido do senador Heráclito, o que não ocorreu até o início da tarde de ontem (22).
Sem ilícito
O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), defendeu Heráclito. Para o senador, seu companheiro de partido não cometeu ilegalidade nenhuma ao pedir antecipação de entrevista na embaixada para um amigo, mesmo sendo presidente da Comissão de Relações Exteriores.
“É um gesto de amizade só. Não vejo nenhum ilícito nisso, em você fazer um pedido para atender uma entrevista”, afirmou Agripino. Segundo ele, Heráclito não teria força suficiente para, sozinho, definir se a filha de Guiga seria atendida ou não. “Não é por conta do disso que a embaixada do Estados Unidos vai atender. A embaixada é muito rígida”, defendeu o líder do DEM.
O presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), não retornou os recados da reportagem deixados em seu telefone. Segundo seu gabinete, ele passou por um tratamento de saúde na segunda-feira (21) e dificilmente poderia atender o Congresso em Foco.
Passeio com Zuleido e Dilma
Amigo do senador do DEM, Guiga é apontado no relatório da Operação Satiagraha da Polícia Federal como lobista do grupo Opportunity. Em grampos telefônicos autorizados pela Justiça, ele demonstra que seu trânsito no Congresso ajudava os negócios do grupo do banqueiro Daniel Dantas, um dos presos pela polícia.
Como revelou o Congresso em Foco, em 27 de maio deste ano, ele lembra ao sócio do Opportunity Arthur Carvalho que Heráclito “é amigo”. “Eu to lhe dizendo que eu não acredito que ele fez exatamente assim, ele não é uma pessoa irresponsável... é amigo, tá certo, me ligou hoje preocupado com a situação que a gente ta vivendo...”, afirmou o publicitário.
A influência de Guiga não se limita ao Congresso. Em novembro de 2006, o publicitário pediu a Zuleido Veras – dono da Gautama, empresa acusada de fraudar obras e licitações públicas – o empréstimo de um iate para governador da Bahia, Jacques Wagner (PT). No passeio, realizado pela Baía de Todos os Santos, o governador estava acompanhado da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. À época, Wagner alegou que não sabia quem era o dono da lancha.
Preocupação
Citado diversas vezes no relatório da Polícia Federal (Leia: parte 1 e parte 2), Heráclito está preocupado com a exposição de seu nome. Na última sexta-feira (17), ele pediu extensão do habeas corpus de Daniel Dantas para que tivesse acesso aos autos da Operação.
Sua defesa entende que ele está numa condição semelhante a de um investigado pela PF. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Medes, concedeu a Heráclito o acesso aos autos, considerando-o como um investigado. Isso pode fazer com que toda a investigação saia das mãos do juiz da 2ª Vara Federal de São Paulo, Fausto de Sanctis, e vá parar no Supremo.
Heráclito prometia, até o início da tarde de ontem (22), fazer uma representação contra a Polícia Federal e o delegado Protógenes Queiroz, que era o responsável pela Operação Satiagraha. O parlamentar alega que houve vazamento de informações envolvendo o seu nome.
A defesa entregaria a representação ao Ministério Público, à Corregedoria da Polícia Federal e ao Ministério da Justiça. A idéia, segundo Heráclito, é "acabar com a esquizofrenia e com as ilações" feitas a partir de conversas dele com os investigados na Satiagraha.
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