sábado, 6 de agosto de 2011

Elucidando Milton Friedman e a Escola de Chicago (completo)

URL: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1065


friedman3.jpgEm comum com seus colegas keynesianos, os friedmanianos desejam dar ao governo central o controle absoluto sobre essa área macro, para que ele manipule a economia para fins sociais.  Ao mesmo tempo, afirmam que o mundo micro ainda assim irá, curiosamente, se manter livre de intervenções governamentais.  Em suma, os friedmanianos, assim como os keynesianos, defendem que a vital esfera macro fique sob o controle do estado, pois isso supostamente é necessário para que o livre mercado haja com liberdade na esfera micro.

A realidade, entretanto, como os economistas da Escola Austríaca mostraram, é que as esferas macro e micro são integradas e entrelaçadas.  É impossível fazer abordagens separadas para cada uma.  É impossível entregar a esfera macro para o estado e, ao mesmo tempo, fazer com que haja liberdade em nível micro.  Qualquer tipo de imposto, e principalmente o imposto sobre a renda, introduz esbulho e confiscos sistemáticos na esfera micro formada pelo indivíduo, e gera efeitos distorcivos e inauspiciosos sobre todo o sistema econômico.  É deplorável que os friedmanianos jamais tenham dado atenção à façanha empreendida por Ludwig von Mises, o fundador da moderna Escola Austríaca, que, ainda em 1912, em seu clássico The Theory of Money and Credit, integrou as esferas micro e macro a toda uma teoria econômica.

Milton Friedman revelou de várias maneiras sua posição fundamentalmente igualitarista e a favor do imposto sobre a renda.  Como em outras áreas, Friedman operou não como um oponente do estatismo e um defensor do livre mercado, mas sim como um tecnocrata que aconselha o estado a como ser mais eficiente na prática de suas perversidades.  (Do ponto de vista de um genuíno libertário, quanto mais ineficiente o estado, melhor para a liberdade.) Ele se opôs a isenções tributárias e denunciou todos os tipos de "brechas" nos códigos tributários, além de ter batalhado para fazer com que o imposto de renda fosse mais uniforme -- logo, mais eficiente.

Uma das façanhas mais desastrosas de Friedman ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando ele trabalhou para o Tesouro dos EUA e impingiu sobre o sofrido povo americano o sistema do imposto de renda retido na fonte, algo do qual ele sempre se orgulhou.  Antes da Segunda Guerra, quando as alíquotas do imposto de renda eram muito menores do que são hoje, não havia um sistema de retenção na fonte; as pessoas pagavam suas contas anuais de uma só vez, no dia 15 de março.  É óbvio que, sob esse sistema, a Receita Federal jamais conseguiria extrair o montante que extrai atualmente, a taxas confiscatórias, de toda a população trabalhadora.  Todo esse sistema repugnante já teria deliciosamente se desmoronado há muito tempo, por absoluta inépcia.  Foi o friedmaniano sistema do imposto de renda retido na fonte que possibilitou ao governo utilizar cada empregador do país como um não remunerado coletor de impostos, que extrai o tributo serena e silenciosamente de cada contracheque.  Sob vários aspectos, devemos agradecer a Milton Friedman pelo atual leviatã que temos.

Já a influência mais desastrosa de Milton Friedman advém de um legado de seu velho igualitarismo chicaguista: a proposta para uma renda mínimia anual garantida para todos, por meio da criação de um imposto de renda negativo -- uma ideia aprovada e defendida intensamente por vários esquerdistas mundo afora [no Brasil, seu mais árduo defensor é Eduardo Suplicy].

Nesse catastrófico esquema, Milton Friedman foi guiado novamente não pelo seu avassalador desejo de remover o estado de nossas vidas, mas sim por sua vontade de tornar o estado mais eficiente.  De fato, talvez seria mesmo mais eficiente, mas também muito mais desastroso, pois a única coisa que faz com que o atual estado assistencialista seja tolerável é exatamente sua ineficiência, justamente porque, hoje, para conseguirem coletar suas benesses, as pessoas têm de se enveredar pelo emaranhado caótico e aborrecido da burocracia assistencialista, o que desanima a muitos.  O esquema de Friedman tornaria o recebimento das benesses totalmente automático, o que daria a qualquer desocupado o direito de reivindicar automaticamente os frutos do trabalho de gente produtiva.

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