segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"Prédios ajudam a piorar ar na capital" - Jornal da Tarde | Rede Nossa São Paulo

A concentração de poluentes em uma rua cercada dos dois lados por
prédios altos é até três vezes maior do que em uma via onde só existem
casas térreas. Em uma metrópole altamente verticalizada como São Paulo,
os arranha-céus formam uma barreira para a dispersão das partículas que
saem dos escapamentos dos carros. São os chamados street canyons –
vales urbanos, em uma tradução livre –, locais onde a poluição do ar
pode ser ainda mais prejudicial à saúde.

Os efeitos da exposição aos poluentes nos street canyons são
semelhantes aos malefícios causados pelo cigarro aos sistemas
respiratório e cardiovascular, compara o médico Paulo Saldiva,
coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). "A diferença
é que o cigarro te dá a chance de escolher se quer acender ou não",
diz. "Os níveis de poluição nos street canyons chegam a ser o triplo do
que o medido em ruas próximas."

A relação entre a altura dos edifícios, sua disposição ao longo da via
e o tempo que as partículas de poluição demoram para sair do vale
urbano está sendo estudada por pesquisadores da USP. "Estamos fazendo
uma simulação no computador usando todas essas variáveis para chegar a
um modelo matemático que possa calcular o tempo da dispersão de
poluentes", explica o professor Jurandir Itizo Yanagihara, do
Laboratório de Engenharia Térmica e Ambiental da Escola Politécnica da
USP (Poli).

Dentro de dois anos, a fórmula desenvolvida por Yanagihara em conjunto
com a Escola de Engenharia de Lorena, também da USP, pode ser aplicada
em situações práticas, com medições da concentração de partículas
nocivas à saúde em determinadas ruas da cidade. Os resultados devem ser
utilizados para ajudar novos projetos de urbanização, propondo
construções que permitam a passagem do vento pelo vale. O movimento do
ar faz com que os poluentes se dissipem com facilidade, segundo
Yanagihara.

Mas o que fazer com os street canyons formados em vias onde a
urbanização está consolidada, como na Avenida Paulista ou no Elevado
Costa e Silva, o Minhocão? "O ideal seria que ruas de maior movimento
de veículos tivessem prédios mais baixos para facilitar a dispersão",
diz Saldiva. "Como isso não é possível, o jeito é mudar a matriz de
transporte. Estamos chegando a um ponto que não existem mais soluções
fáceis para o problema da poluição. As pessoas não mudam quando ficam
doentes? Com as cidades é a mesma coisa. Elas estão indo para a UTI."

A opinião é compartilhada por Eduardo Santana, coordenador de Qualidade
do Ar do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). "Em centros
urbanos como São Paulo, os grandes vilões são os automóveis e os
combustíveis fósseis. Por isso há a necessidade de se investir em
transporte coletivo, porque se continuarmos aumentando a frota de
carros, vamos aumentar a poluição", opina.

Programas de controle de emissão de gases, como a inspeção veicular
ambiental, também são considerados importantes. Mas com ressalvas.
"Precisamos ver os estudos sobre qual é o ganho ambiental real de um
programa como esse. Até para saber se a verba destinada a isso não
seria melhor empregada no transporte público, por exemplo", diz Santana
-- http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/16698


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