sexta-feira, 22 de julho de 2011

A pretensão do conhecimento

URL: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=222


hayek_nobel.jpgParece-me que essa incapacidade dos economistas em sugerir políticas mais bem sucedidas está intimamente ligada à propensão a imitar, o mais rigorosamente possível, os procedimentos das mais brilhantemente exitosas ciências físicas -- tentativa essa que, em nosso campo profissional, pode levar a erros crassos.  Esta é uma abordagem que passou a ser descrita como sendo uma atitude "cientificista" -- uma atitude que, como defini há cerca de trinta anos, "é decididamente não científica no verdadeiro sentido do termo, pois envolve uma aplicação mecânica e indiscriminada de hábitos de pensamento a campos diferentes daqueles em que esses hábitos foram formados".  Quero hoje iniciar essa palestra explicando como alguns dos mais graves erros da atual política econômica decorrem diretamente desse erro científico.

A teoria que tem orientado as políticas fiscais e monetárias dos últimos trinta anos -- uma teoria que afirmo ser o produto de uma concepção distorcida sobre o procedimento científico adequado -- consiste na crença de que existe uma simples correlação positiva entre o nível de emprego e o tamanho da demanda agregada por bens e serviços.  Tal crença nos leva a imaginar que podemos garantir permanentemente o pleno emprego através da manutenção dos gastos monetários totais em um nível adequado.  Dentre as várias teorias utilizadas para se explicar o alto desemprego, esta é provavelmente a única que pode receber o apoio de fortes evidências quantitativas.  Contudo, considero tal teoria fundamentalmente falsa.  Mais ainda: agir tomando-a como base é algo, como estamos constatando, extremamente nocivo.

O que nos leva à questão crucial: a diferença entre a Ciência Econômica e as Ciências Físicas.  Ao contrário das ciências físicas, na ciência econômica -- e em outras disciplinas que lidam com fenômenos essencialmente complexos -- os aspectos dos eventos a serem estudados, e sobre os quais podemos coletar dados quantitativos, são necessariamente limitados.  Além disso, esse número necessariamente limitado de aspectos quantitativos pode não incluir aqueles aspectos mais importantes.  Nas ciências físicas geralmente se supõe, provavelmente com boas razões, que qualquer fator importante na determinação dos eventos observados é ele próprio diretamente observável e mensurável.  Já no estudo de fenômenos essencialmente complexos -- tais como o mercado, que depende das ações de vários indivíduos --, todas as circunstâncias que irão determinar o resultado de um processo dificilmente serão totalmente conhecidas ou mesmo mensuráveis. 

Assim, ao passo que nas ciências físicas o pesquisador é capaz de mensurar, com base em uma teoria aparentemente evidente, aquilo que ele julga ser importante, nas ciências sociais frequentemente só se dá importância àquilo que por ventura possa ser mensurado.  Esse modo de pensar é algumas vezes levado ao ponto em que se exige que nossas teorias sejam formuladas de uma maneira que leve em conta apenas grandezas mensuráveis.

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