domingo, 8 de fevereiro de 2009

Aí vem o dilúvio

URL: http://gabinetesoninha.blogspot.com/2009/02/ai-vem-o-diluvio.html


Postado por Soninha Francine

Tutatis não ouviu nossos apelos e o céu caiu sobre nossas cabeças.

***
Eu fiquei rezando - só o que me restava - para não cairem mais árvores.

Na televisão, imagens de carros amontoados na Vila Madalena.

Toca o telefone da Lylian, que estava comigo (depois de ter ido a um evento dos escoteiros no Pelezão): "Você já soube da Avendida Pompéia?", pergunta o Eduardo Fiora, do Jornal da Gente. "Teve carro amontoado, um caos!".

E lá vamos nós...

***
Contornamos os congestionamentos e paramos o carro a três ou quatro quarteirões do "ponto zero". Ficamos boquiabertas com as cenas de filme-catástrofe. Carros espalhados para todo lado, apontando em todas as direções, encaixados uns nos outros ou em objetos diversos - postes de luz, árvores, placas de trânsito, lixo. Alarmes disparados. Dezenas de pessoas meio atarantadas, abrindo porta-malas, tirando objetos pessoais, tentando fazer o carro funcionar. Lama para todo lado.

***
Em um sobradinho, a água inundou o andar de baixo até a altura da minha testa. A estante com dezenas de livros, o aparelho de som, o aspirador, a enceradeira foram todos inutilizados.

"A cada dia que passa no verão eu agradeço: ufa, passou mais um. [Mais um dia sem enchente]. Hoje não passou".

***
Ao lado da casa dela tem uma loja da Hering. O proprietário veio conferir os estragos; abriu a comporta que procura conter a inundação e foi "saudado" por enxurrada que saía, com muita força e volume, pela fresta entre a porta e o chão. Ou seja: a loja estava inundada. Não parava se sair água.

***
Eu nunca vi tanto giuncho de automóvel junto na minha vida. A proporção era mais ou menos assim: 1 da Fortaleza/ 1 da Mondial (acho que é isso)/ 1 da Azul não-sei-quê/ 20 da Porto Seguro. Virou até piada - a gente achou que era sempre o mesmo guincho que ficava desfilando para parecer que eram vários. Não deu pra rir muito tempo porque toda hora víamos três ou quatro guinchos da Porto ao mesmo tempo...

Em compensação, um rapaz que chamou o seguro do Itaú às seis da tarde para tirar seu carro do canteiro central da avenida esperou até as duas da manhã para ser atendido. Quando, depois de muitas ligações e palavrões, foi informado de que seu guincho só chegaria às quatro e meia da manhã. bufou, espumou e resolver contratar um guincho particular. Ele já estava esperando há OITO horas! Depois pediria reembolso e processaria a seguradora, pronto. Só o dano moral de ficar horas parado enquanto vê um desfile de caminhões da outra seguradora já merece indenização...

***
Pois na hora que ele foi embora, apareceu o guincho.

***
A dona da casa alagada, que perdeu coleções inteiras de livros (a do Monteiro Lobato, grandona com capa dura esverdeada, era igualzinha a minha), que teve a casa invadida por água suja e fedida, que teve uma janela e a cristaleira quebradas por força da água, conversava com a gente como se não tivesse todos os motivos do mundo para estar p* da vida.

Disse que da outra vez (não é sua primeira enchente) procurou a Sub da Lapa para saber como pleitear desconto ou isenção no IPTU, para compensar os danos da inundação. E disse que não conseguiu nada.

***
Veio a CET ajudar a organizar o trânsito e desencorajar os motoristas que corriam demais nas pistas cheias de barro); veio um caminhão de lixo com três (depois quatro) pessoas incrivelmente prestativas e bem-humoradas; veio um caminhão pipa lavar a rua enlameada (pena que a água dele acabou antes de o serviço ficar completo, mas era uma lama grossa, pesada, que deu muito trabalho para ser removida. De onde terá vindo? De prédios em construção?

***
Desculpem se o texto estiver meio descosturado. Estou morrendo (coloquem uns cinco ee aí) de sono e escrevo quase sonâmbula.

Ainda bem que parou de chover.

Nenhum comentário: