segunda-feira, 18 de julho de 2011

"Cresce mobilização por áreas verdes em SP" - O Estado de S.Paulo | Rede Nossa São Paulo

"Cresce mobilização por áreas verdes em SP" - O Estado de S.Paulo
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Publicado em: 18/07/2011 - 15:02

Como no Itaim-Bibi, abraços coletivos e abaixo-assinados são formas de
moradores pressionarem o poder público, na tentativa de evitar mais
prédios

Márcio Pinho - O Estado de S.Paulo

Com áreas verdes cada vez mais escassas em São Paulo, paulistanos de
diferentes regiões têm se mobilizado para evitar que elas deem lugar a
espigões. Abraços coletivos a terrenos, coleta de assinaturas e pressão
junto a órgão oficiais se tornaram comuns na briga para evitar que o
mercado imobiliário leve a melhor. E o argumento costuma ser
semelhante: para que adensar, poluir e levar mais trânsito a áreas já
tão saturadas?

A tentativa é a de reverter uma lógica histórica na cidade que é a da
destruição da natureza para a ocupação humana. Dados da Prefeitura
indicam que apenas 14 das 31 subprefeituras de São Paulo conseguem
superar o mínimo de área verde recomendado pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) - 12 metros quadrados por habitante. E boa parte do verde
que sobrou se encontra em extremos, como a Serra da Cantareira, ou em
condomínios fechados.

A recente decisão do prefeito Gilberto Kassab (sem partido) de vender
20 terrenos para construtoras deu ainda mais força aos movimentos. Um
dos imóveis que mais causam mobilização é o Quarteirão da Cultura, no
Itaim-Bibi (zona sul). O terreno de 20 mil metros quadrados - o
equivalente a dois campos de futebol - tem oito equipamentos públicos,
entre eles biblioteca e teatro, e mais de 40 espécies vegetais, segundo
o Movimento em Defesa do Quarteirão da Cultura SOS Itaim-Bibi.

A área está avaliada em R$ 140 milhões e teve a venda autorizada pela
Prefeitura no dia 6. Mas, a pedido dos moradores, o Conselho de Defesa
do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado
(Condephaat) estuda um pedido de tombamento da área, o que por enquanto
impede a venda. Segundo o coordenador do movimento, Helcias de Pádua, a
vegetação contribui para a qualidade de vida e os equipamentos são
imprescindíveis para os moradores da região e os de outros bairros.

Além do Itaim, há outras áreas que causam mobilização na cidade. A
Mooca, na zona leste, abriga pelo menos duas áreas polêmicas. A Praça
Alfredo di Cunto, conhecida como Praça das Flores, é um dos terrenos
que serão vendidos pela Prefeitura. Um abraço coletivo, organizado pela
associação Amoamooca, demonstrou ontem a insatisfação.

"O sistema de captação de chuva é o mesmo, o de esgoto é o mesmo, as
vias são as mesmas. Só diminui o que precisamos, que são áreas que
tragam qualidade de vida", resume Pedro Felice Perduca, da associação
de moradores. Na manhã de ontem, cerca de 30 moradores deram as mãos
dentro da praça. "Foi um ato simbólico e uma retomada da força do
bairro em brigar pelos interesses da comunidade."

Também na Mooca, um imóvel de 4,5 mil metros quadrados na Rua Padre
Benedito Maria Cardoso mobilizou os moradores de um condomínio de 17
edifícios. Eles colaboram para a manutenção do espaço desde 1949. Em
2010, a área foi vendida pelo Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS). Os moradores lutam pelo tombamento.

Augusta. Se a venda dos terrenos pela Prefeitura exaltou os ânimos
neste ano, a disputa em torno de um imóvel na Rua Augusta é bem mais
antiga. Desde 2005, vizinhos tentam evitar que uma área de 24 mil m²
entre as Ruas Caio Prado e Marquês de Paranaguá, na Consolação, seja
tomada por construções - primeiro de um supermercado, depois de um
condomínio. Em 2006, houve o primeiro abraço coletivo; em junho deste
ano, foi feito um piquenique.

"Defendemos espaços de convivência ao ar livre. As pessoas vivem em
suas jaulas", diz o produtor de teatro Sérgio Carrera, de 53 anos, que
se arrisca a comer os abacates que aparecem na área em disputa na
Augusta.

Já são mais de 20 mil assinaturas a favor da construção do parque. Em
2008, Kassab chegou a decretar a área de utilidade pública para a
criação da área verde, mas ela ainda não saiu do papel.

Carrera avalia que o movimento por parques em São Paulo reflete novo
paradigma. Há 10, 20 anos, pensava-se no desenvolvimento; hoje, no
planeta."

História. Segundo o professor da USP Nestor Goulart dos Reis Filho,
autor do livro São Paulo Vila Cidade Metrópole, São Paulo era no
passado uma área de campos entremeada por bosques. E muitos dos bairros
que atualmente levantam bandeiras por áreas verdes cresceram
utilizando-se de desmatamentos. Um exemplo é a próprio eixo da Avenida
Paulista - Vila Mariana, que era um bosque. Paradoxalmente, acrescenta,
esses desmatamentos foram facilitados, entre outros motivos, porque
quem vinha do interior para a cidade queria distância daquele cenário.
-- http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/16576


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