quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Novo laudo do Exército pode complicar Jobim

URL: http://congressoemfoco.ig.com.br/Ultimas.aspx?id=24549


Parlamentares governistas e de oposição avaliam que a situação do ministro da Defesa, Nelson Jobim, pode se complicar se o novo laudo do Exército comprovar que os equipamentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não têm capacidade de realizar grampos. Nesse caso, o relatório confirmaria a análise da Polícia Federal (PF), de que as maletas são inaptas para realizar escutas.
 
Caso contrário, haveria conflito com o ministro da Segurança Institucional, general Jorge Félix, em novo atrito com Jobim.
 
O novo laudo, considerado pelo ministro da Defesa como um documento “reservado”, precisa ser analisado pelo Congresso, mas permanece em cofre sem que os parlamentares o tenham analisado.
 
O presidente da CPI dos Grampos, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), disse que só irá verificar e divulgar o relatório se o próprio Jobim autorizar. A esse laudo, foi anexada a relação de quais foram os equipamentos adquiridos pela Abin por meio do Exército. Esse documento, que é “confidencial”, também permanece no cofre da comissão.
 
Materiais “confidenciais” e “reservados” não podem ser divulgados, segundo o decreto 4.553/2002. Por isso, os deputados querem que Jobim retire o segredo imposto aos documentos – ou os “desclassifique”, no jargão da burocracia. Mas Itagiba não deu prazo para que o ministro da Defesa tome essa decisão.
 
Jobim tem afirmado que as maletas da Abin têm capacidade de fazer escutas telefônicas. A opinião do ministro da Defesa é baseada no primeiro laudo feito pelo Exército. A hipótese de os grampos em telefones de autoridades ter sido realizado por equipamentos da agência resultou no afastamento dos diretores da instituição.
 
No entanto, isso tem sido rebatido pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, para quem os equipamentos apenas “realizam varreduras”.
 
Enrascada
 
“Se se comprovar o laudo da PF, ficará difícil para o ministro Jobim. Ele se envolveu em uma enrascada. É uma tentativa de justificar o injustificável”, disse ao Congresso em Foco o deputado de oposição, Vanderlei Macris (PSDB-SP).
 
Para o deputado governista Luiz Couto (PT-PB), Jobim se precipitou. “O ministro quando falava sobre os equipamentos talvez se baseasse nas informações do folheto que vem no produto. Mas a gente sabe que nem sempre essas informações são verdadeiras. Não se deve dizer as coisas que não tem certeza. Isso é ruim para as investigações”, disse.
 
O presidente da CPI entende que Lula é quem tem que resolver essa divergência. “Isso é um problema do presidente Lula. Não é um problema meu”, disse secamente Marcela Itagiba, hoje pela manhã.
 
Conflito
 
Segundo Macris, o sigilo dos documentos surpreendeu os membros na CPI, que defendem a publicidade de todas as informações para esclarecer se houve e quem foi o autor do suposto grampo contra o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.
 
O motivo dessa escolha de Jobim é desconhecido. “Eu desconfio de que o laudo conflita com o da PF.” Essa hipótese colocaria em choque as figuras de Jobim e Félix. Caso contrário, traria desprestígio do ministro da Defesa perante Lula.
 
O oposicionista avalia que o esclarecimento do “conflito” de opiniões entre os dois ministros não interessa ao governo. “Acho que há um culpado, mas não há interesse em desmentir”, diz Macris.
 
Para o parlamentar, tudo isso pode atrapalhar os planos de Jobim de assumir uma chapa com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, em 2010. Mas o governista Luiz Couto entende que esse debate não pode ser antecipado.
 
“Fala-se em Jobim com Dilma, com [o deputado] Ciro [Gomes (PSB-CE)]. À medida que se lança candidatura, lançam-se disputas”, disse o petista.
 
Água na fervura
 
Segundo Macris, o fato do general Félix não ter vindo depor nesta quarta-feira à CPI dos Grampos como previsto e o pedido de adiamento de depoimento à comissão feito por Jobim há duas semanas mostra que o governo que abrandar a situação. “É pra botar mais água na fervura”, define Macris.
 
A assessoria do Ministério da Defesa afirmou que Jobim não tomou conhecimento do pedido da CPI e que só vai se manifestar depois disso. (Renata Camargo, Eduardo Militão e Rodolfo Torres)
 
Leia também:
 
 
 

Nenhum comentário: