Tão logo publicamos a notícia sobre a queda da cúpula que comanda o ministério dos Transportes, Alexandre – o nosso leitor petista (ele jura que não é) mais assíduo – veio parabenizar a “presidenta” pela iniciativa: “Parabéns Dilma ! Mostrou que não vai tolerar corrupção no seu governo”, disse entusiasmado. Entendemos, afinal, o parâmetro que Lula deixou não foi muito elevado. Qualquer ação que não fosse a de afagar os envolvidos em escândalo de corrupção já seria uma agradável novidade, digna até de comemoração.
Pois bem, mesmo que todos os indícios de desvios no Transporte apontem para o titular da pasta, o ministro Alfredo Nascimento, Dilma decidiu mantê-lo no cargo. A informação foi confirmada hoje pela Folha Online. Leiam com atenção o que segue, voltaremos nos comentários:
Enquanto o governo se mobiliza para defender e manter o ministro Alfredo Nascimento no comando dos Transportes, a oposição já fala em pedir uma CPI no Congresso para investigar o suposto esquema envolvendo servidores do ministério e de órgãos ligados à pasta em superfaturamento de obras e recebimento de propina de empreiteiras e consultorias.
Quatro integrantes da cúpula do ministério foram afastados no último sábado por conta das denúncias e, nesta manhã, a presidente Dilma Rousseff divulgou nota mantendo Nascimento no cargo.
O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), anunciou que seu partido vai solicitar uma audiência pública com o ministro e com o diretor-geral afastado do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antônio Pagot, para que eles prestem esclarecimentos sobre as denúncias.
O requerimento de audiência será apresentado à CI (Comissão de Serviços de Infraestrutura), cuja reunião está prevista para a próxima quinta-feira (7). De acordo com o PSDB, o requerimento prevê a convocação do ministro e o convite do diretor-geral do Dnit. A diferença é que a convocação torna a presença do ministro obrigatória, sob pena de crime de responsabilidade.
O esquema de corrupção no Ministério dos Transportes foi revelado pela revista “Veja”. Para Alvaro Dias, o próprio ministro deveria se afastar durante o período de investigações.
O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), por sua vez, afirmou que o afastamento da cúpula do ministério e a instauração de sindicância interna para apurar o caso são insuficientes diante da gravidade das denúncias.
“Os fatos são graves. O afastamento foi correto, mas há necessidade de investigações mais profundas”, disse.
(…)
GOVERNO
Segundo a assessoria de Imprensa do Palácio do Planalto, a presidente já conversou com Nascimento e pediu que ele conduza as investigações do suposto esquema.
De acordo com assessores, o governo “reitera apoio ao ministro”. “O governo manifesta sua confiança no ministro Alfredo Nascimento”.O ministro é o responsável pela coordenação do processo de apuração das denúncias feitas contra o Ministério dos Transportes.”
Após reportagem da revista “Veja” sobre o esquema no fim de semana, Nascimento, presidente licenciado do PR, foi obrigado a afastar a cúpula do ministério. Sua permanência não estava assegurada e dependia do encontro com a presidente.
Entre os servidores afastados estão Pagot e o diretor-presidente da Valec (Engenharia, Construções e Ferrovias S.A.), José Francisco das Neves.
Os órgãos são responsáveis por obras vitais para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O Ministério dos Transportes faz parte da cota do PR, partido da base aliada e que faz dobradinha com o PT desde o primeiro governo Lula. O partido tem 40 deputados federais e seis senadores.
(…)
(Grifos nossos)
Leia a íntegra aqui.
Comentário
Como informa a assessoria do Palácio do Planalto: “a presidente já conversou com Nascimento e pediu que ele conduza as investigações do suposto esquema”. Agora leiam o que informa a reportagem de Veja que derrubou parte da cúpula do ministério dos Transportes:
Nas últimas semanas, VEJA conversou com parlamentares, assessores presidenciais, policiais e empresários, consultores e empreiteiros. Ouviu deles a confirmação de que o PR cobra propina de seus fornecedores em troca de sucesso em licitações, dá garantia de superfaturamento de preços e fecha os olhos aos aditivos, alvo da ira da presidente na reunião do dia 24.
O esquema seria encabeçado pelo deputado Valdemar Costa Neto, que em 2005 foi obrigado a renunciar a uma cadeira na Câmara abatido pelo escândalo do mensalão. E também pelo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que aliás faltou ao encontro com Dilma alegando "compromissos pessoais".
Ou seja, se a queda da cúpula do ministério ocorreu em decorrência das denúncias apresentadas pela reportagem, como é que Dilma mantém no cargo um dos principais suspeitos de encabeçar o esquema, de acordo com essa mesma reportagem? E o que é pior, não só mantém como permite que o acusado conduza o processo de investigação.
Era para parabenizar a Dilma pelo que mesmo?
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