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O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) abandonou a liderança do partido no Senado nesta terça-feira (27). Em carta endereçada ao presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN) – que assumiu a liderança no lugar de Demóstenes -, ele afirmou que pretende “acompanhar a evolução dos fatos noticiados nos últimos dias”. O senador se refere às suas ligações com o “empresário de jogos” Carlinhos Cachoeira, cujo endereço atual é um presídio federal no RN.
Apesar de Cacheira ter ligações com políticos de diversos partidos (clique aqui para ver uma reunião do “empresário” com um deputado petista), a amizade com Demóstenes parece ser especial: o senador é acusado de ter recebido presentes e de ter trocado mais de 300 ligações telefônicas com o bicheiro. Nesta semana, também surgiram contra ele denúncias de participação no esquema de Cachoeira e de vazamento de informação sigilosas de comissões do Senado.
A situação do senador goiano é grave: o DEM já admite a possibilidade de expulsá-lo do partido. Demóstenes também deve enfrentar investigação da Procuradoria Geral da República e processo no Conselho de Ética do Senado. A depender da “evolução dos fatos noticiados”, precisará contar com a solidariedade de muitos dos que no passado recente absolveram outros senadores enrolados com denúncias, como Renan Calheiros e José Sarney, para livrar-se da cassação.
Demóstenes já contratou os seviços do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Famoso por ser amigo de José Dirceu (é o advogado do “chefe de quadrilha”, segundo a Procuradoria Geral da República, no processo do Mensalão), ele também defendeu recentemente o ex-ministro do Esporte Orlando Silva. A revista Piauí publicou uma longa reportagem com Kakay em novembro do ano passado, confiram alguns trechos:
Numa manhã de outubro, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro tocou a campainha da casa do ministro Orlando Silva, dos Esportes, no Lago Sul, em Brasília. O sol mal surgira no horizonte, mas como o assunto urgia, dispensaram o café da manhã. Silva seria ouvido à tarde, na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, a respeito da acusação de receber uma caixa de dinheiro de propina, na garagem do Ministério.
"Tem chance de ter grampo?", perguntou o advogado, sentado num sofá.
"Não, não há hipótese", disse o ministro.
"Então vamos pro pau", disse Almeida Castro, anunciando três medidas prementes.
Segundo o advogado – que conhece de cor quase todo o regimento interno da Câmara e do Senado –, a primeira providência era operar para que os correligionários de Orlando Silva marcassem o depoimento para o mesmo horário da sessão no plenário. Assim, a fala do ministro não seria televisionada pela TVCâmara, o que diminuiria o exibicionismo de parlamentares da oposição no interrogatório na comissão.
(…)
Quem contrata Kakay – apelido que Almeida Castro cunhou para si mesmo, inventando até a grafia – compra um pacote raro no mercado jurídico. Ele faz a defesa técnica e atua também como assessor de imprensa, perito em imagem e especialista em regimento do Congresso, além de ser frequentador de Comissões Parlamentares de Inquérito, íntimo de ministros e chefes de partido, interlocutor de jornalistas respeitados, amigo de empresários biliardários e expert nos códigos do poder brasiliense.
Em trinta anos de profissão, ele contou ter defendido dois presidentes (José Sarney e Itamar Franco), um vice (Marco Maciel), cinco presidentes de partido (simultaneamente), quarenta governadores (em períodos diversos), dezenas de parlamentares (atualmente são quinze senadores) e uma penca de ministros (no governo de Fernando Henrique Cardoso foram treze; no de Luiz Inácio Lula da Silva, três; no de Dilma, dois). No mês passado, acrescentou à freguesia um ex-governador, um presidente de Assembleia Legislativa e um juiz de Tribunal de Contas estadual.
(…)
O próprio Carlinhos Cachoeira também é velho conhecido da turma de José Dirceu: ele foi o pivô do primeiro escândalo do governo Lula em 2004, flagrado supostamente oferecendo propina a Waldomiro Diniz, o presidente da Loterj que havia se transformado em principal assessor do então todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil.
Diante disso tudo, mesmo que venha a ser absolvido pelo Conselho de Ética e que as acusações contra ele sejam arquivadas, o senador Demóstenes – antes acostumado a ocupar a tribuna e a liderar os esforços da oposição no Congresso – entra definitivamente para a “turma do fundão” da política brasileira. Resta saber quem (se é que alguém) desempenhará a partir de agora o tão necessário papel de fiscalizar e cobrar duramente o governo no Senado.
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