quarta-feira, 18 de abril de 2012

Lendo nas Entrelinhas ... de um relatório pífio

Olá,

No dia 07/04 divulgamos uma mensagem (abaixo) alertando, para quem sabe ler nas entrelinhas, o que estava por trás da demora do TSE em publicar seu relatório final sobre os testes de segurança realizados entre 20 e 22 de março.

Finalmente, no dia 11/04, o TSE disponibilizou seu relatório final bem como os relatórios dos testes de cada grupo.
Todos eles (20 no total) podem ainda ser encontrados em:
  http://www.tse.jus.br/hotSites/testes-publicos-de-seguranca/
seguindo o link "Material do evento".

Mas não sei por quanto tempo. Quem quiser guardar cópias deve baixá-los logo.
Esse endereço ainda funciona mas já foram retirados todos os links nas páginas do TSE que apontavam para ele, de forma que quem não conhecer esse endereço , já não encontra mais nada.

O relatório final do TSE, que demorou 20 dias para ser elaborado, foi produzido pela Comissão Avaliadora e foi assinado pelos "notáveis especialistas" (segundo nota do TSE): Oswaldo Catsumi (do IEA da Aeronáutica), Antônio Montes F. (do CTI do MCE), Mamede Lima-marques (do DCC da UnB) e Jamil Salem Barbar (da FC da UFU).

O relatório contém um sumaríssimo resumo de apenas 2 páginas, cheio de tabelas e siglas e nenhuma explicação dos critérios, justificativas ou conclusões.

Um relatório pífio, enfim, que mereceu o seguinte comentário de um advogado eleitoral que o leu: "lembra o antigo Min. Falcão: nada a declarar"

Para quem souber ler nas entrelinhas, ler aquilo que não está escrito no relatório do TSE, aí vão algumas informações:

1) A Comissão Avaliadora, que produziu esse relatório, teve todos os seus notáveis membros rigorosamente escolhidos a dedo e nomeados pela equipe de TI do TSE.

Lembro que, na primeira versão do teste em 2009, foi justamente essa imposição do TSE de indicar TODOS os membros das comissões de regulamentam, controlam e avaliam o teste, que afastou os partidos políticos que solicitavam o teste  desde de 2006.
Os partidos perceberam e compreenderam que tal comissão exclusiva do TSE não teria imparcialidade na sua atuação.

2) O edital de convocação dos testes, no seu art. 8º e 17, diz que o relatório final da comissão avaliadora deveria ser divulgado no dia 29/04 e que teria que conter descrição dos testes, análise dos resultados e conclusões.

Nada disso foi cumprido pela comissão dos notáveis. Nenhuminha descrição do conteúdo dos relatórios de cada teste. Nenhuma explicação do porquê rejeitaram ou modificaram o que neles estava escrito. Nenhuma justificativa para as notas dadas. Nenhuma conclusão!!!!
 
Em resumo, eles não cumprem nem a própria regra que escreveram sem aceitar a participação de terceiros.

3) A nota atribuída ao teste bem sucedido do grupo 1 (grupo independente da UnB) foi tão artificialmente forçada para baixo, desrespeitando até os critérios estabelecidos nas regras que eles mesmo escreveram, que resultou num valor insignificante, como se explica abaixo com mais detalhes.

4) A manipulação desavergonhada na avaliação dos testes, a ausência de explicações, o desrespeito aos critérios por eles próprios estabelecidos, enfim, a absoluta falta de imparciabilidade dos senhores Catsumi, Lima-Marques, Montes Filho e Barbar não lhes trará nenhuma consequência, uma vez o edital que regula a produção desse relatório se encerra (art. 11) estabelecendo que o relatório da Comissão Avaliadora é IRRECORRÍVEL !!!

obs.: estão entendendo agora porque os 3 partidos, autores do pedido dos testes em 2006, não aceitaram participar dos testes sob o jugo desse autoritarismo exacerbado do TSE e de seus indicados.

* Avaliando o Avaliador

Os critérios para a atribuição das notas dos testes de segurança efetuados estão definidos nos editais, do próprio TSE.

Neles se diferencia o que seriam ataques para produzir falhas daqueles para produzir fraudes.
Também são definidos os fatores multiplicadores e os redutores de pontos.

Por ex.:
Um ataque que provoque um fraude contra a apuração ou contra o sigilo dos votos teria um valor 10 vezes maior que um ataque que provocasse a indisponibilidade (mal funcionamento) de algum equipamento.
Um ataque que possa atingir todas as urnas do país tem um valor 20 vezes maior que um ataque que só atinja uma urna de uma única seção eleitoral.
Quanto mais "pontos de intervenção", menor a nota.
Se o atacante apresentar solução aceita para o problema, a nota será multiplicada por 2.

A descrição do teste bem sucedido da equipe do prof. Diego Aranha da UnB pode ser vista:

a) no seu próprio relatório assinado por representante do TSE, disponivel em:
    http://www.tse.jus.br/hotSites/testes-publicos-de-seguranca/arquivos/G1PT1.pdf
b) na palestra do prof. Diego no Ministério do Planejamento no dia 12/04
    http://www.sisp.gov.br/web/one-entry?entry_id=14064899
c) no artigo do prof. Pedro Rezende em:
    http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed690_para_onde_foi_o_%28sigilo_do%29_voto

Os autores denominaram seus procedimentos como Ataque de Sandy (não vou entrar em detalhes para explicar esse nome), que teve as seguintes características:

1) Teve apenas um único ponto de intervenção: os dados de auditoria (RDV e LOG) que o TSE publica (por lei) após o encerramento da eleição normal. (redutor P=1)
2) Provoca a fraude contra o sigilo do voto. (multiplicador A=10)
3) É aplicável a todas as urnas de uma eleição normal. (multiplicador E=20)
4) Foi apresentada uma solução que foi aceita e até implementada pela equipe de TI do TSE, ainda durante os testes. (multiplicador extra=2)
5) O tempo gasto nos primeiros testes propostos e bem sucedidos foi de 5 min (redutor deltaT=1). Num teste adicional (além das regras) com um número MÁXIMO de eleitores (e não médio como foi divulgado), foi gasto 35 min (redutor deltaT=2).
6) Não deixa rastros (não tem, mas deveria ter um multiplicador para isso)

Com esses valores e pela fórmula de cálculo divulgada, a nota do Ataque de Sandy seria 400, no caso dos testes propostos inicialmente pela equipe da UnB, e seria de 200, no caso do super-teste proposto extemporaneamente pelos organizadores.

Mas a nota, sem explicações ou justificativas e IRRECORRIVEL, dada pela comissão dos notáveis do TSE para o Ataque de Sandy foi :  0,0313 !!!!

É isso mesmo. Três centésimos de ponto em 400 possíveis!

Eu me lembro de um "Ataque DoS" (Denial of Service - contra a disponibilidade de um equipamento) que aconteceu em 2008 na cidade de Timon (MA).
Vejam em:
  http://br.groups.yahoo.com/group/votoseguro/message/3566

O eleitor "atacante" levou um saco com fezes humanas e lambuzou o teclado da urna, provocando a "indisponibilidade do equipamento" pois ninguém mais quis votar nele.

Por diletantismo, vamos usar os critérios estabelecidos pelo TSE para dar nota a este ataque que denominaremos como Ataque Escatológico.

1) se desfechou em menos de 30 minutos (redutor deltaT=1)
2) teve apenas um ponto de intervenção (redutor P=1)
3) provocou falha ou indisponibilidade do equipamento (multiplicador A=1)
4) atingiu uma única seção eleitoral (multiplicador E=1)
5) o atacante evadiu-se e não propôs solução. (multiplicador extra=1)
6) o ataque deixa rastros bastante evidentes (e cheirosos)

Com esses valores, aplicando-se a fórmula do TSE,  o Ataque Escatológico receberia valor de 1 (em 400 possíveis).

Resumindo, segundo os critérios irrecorríveis dos  Srs. Catsumi (IEA), Montes Filho (CTI), Lima-Marques (UnB) e Salem Barbar (UFU), o Ataque Escatológico seria 300 vezes mais perigoso e danoso ao processo eleitoral que o Ataque de Sandy que demonstrou a possibilidade de se ordenar os votos no arquivo RDV das urnas eletrônicas usadas até 2010.

Parece brincadeira, não é?
Mas é sério! É com esse tipo de argumento que a autoridade eleitoral dá satisfação aos eleitores (quer dizer: a você que leu até aqui).

Como vocês avaliam a "imparcialidade" dos notáveis do TSE?

Saudações,

Eng. Amilcar Brunazo Filho

O eleitor argentino pode ver e conferir
o conteúdo do registro digital do seu voto
antes de deixar o local de votação.
O eleitor brasileiro não pode!
No Brasil, o voto é secreto até para o próprio eleitor.

Eu sei em quem votei. Eles Também.
Mas só eles sabem quem recebeu meu voto

Conheça o Relatório CMind 1 sobre as urnas eletrônicas brasileiras
           e o Relatório CMind 2 sobre as urnas eletrônicas argentinas



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Em 12 de abril de 2012 14:17, rpralon@rocketmail.com <rpralon@rocketmail.com> escreveu:
O relatório do TSE finalmente saiu ontem 11/04/2012
Tá no site do evento:  http://www.tse.jus.br/hotSites/testes-publicos-de-seguranca/


Em 7 de abril de 2012 11:46, Amilcar Brunazo Filho <amilcar@brunazo.eng.br> escreveu:
Para quem souber ler o que não está escrito:

O art. 8º do edital do teste de segurança, recém promovido pelo TSE, previa para o dia 29/3 a divulgação do relatório final da Comissão Avaliadora incluindo todos os relatórios individuais dos testes de cada equipe. e também previa a premiação e diplomação dos aprovados em cerimônia oficial de encerramento dos teste.

* o edital pode ser visto em:
http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tse-2-edicao-dos-testes-de-seguranca-na-urna-eletronica

Chegou o dia 29/3, a cerimônia ocorreu, os vencedores foram premiados mas..... o tal do relatório final não apareceu!!!
http://agencia.tse.jus.br/sadAdmAgencia/noticiaSearch.do?acao=get&id=1465115

Captaram a entrelinha na nota do TSE?

Cadê o Relatório Final?

Em 2009, eles publicaram o Relatório Final na Internet, normalmente, incluindo as descrições dos testes (que revelavam que participaram apenas 20 pesquisadores e não 32 como o TSE divulgava).
Eu tenho cópia disso tudo. Se vocês quiserem ver é só me pedir, porque eles já tiraram do saite.

Mas, e agora, o que está acontecendo?
Porque passados 10 dias do prazo, o tal relatório não aparece?

Será está havendo divergências interna sobre a conveniência de divulgar a verdade (os resultados de cada teste)?


Todas as equipes, inclusive a vitoriosa da UnB, assinaram o relatório dos respectivos testes e têm cópias deles.
Mas porque, esse ano, o TSE está mantendo escondido todo esse material? Cadê a transparência que eles tanto falam?

Os membros da Comissão Avaliadora chegaram a um consenso? Ou tem alguns deles divergindo quanto a conviência de divulgar os resultados verdadeiros?

O sucesso da equipe da UnB (Diego Aranha, Marcelo Karam, Filipe Scarel e André de Miranda) em demonstrar que o arquivo RDV não garantia o sigilo do voto pegou o organizadores do evento de surpresa e eles não sabem o que fazer com a "batata quente nas mãos".

Eles tinham arrumado tudo de forma bem controlada para que nenhuma equipe tivesse sucesso, tanto que o presidente do TSE (min. Lewandowsky), no seu discurso de abertura dos testes, disse claramente que não acreditava que alguém teria sucesso em violar a segurança das urnas.

A primeira reação deles foi tentar diminuir o significado do acontecido, divulgado notas dizendo que teria havido apenas uma "quebra parcial do sigilo das urnas", ou que "o embaralhamento dos votos não seria importante" ou ainda que "em ambiente normal isso não seria possível".  Tudo besteira.

A segunda reação, é contar com a memória curta da imprensa.  Simplesmente não divulgam o relatório que, se escrito com honestidade, teria que reconhecer que foi quebrada a garantia de sigilo do voto nas urnas do TSE, que teria que ser dada pelo embaralhamento dos votos (que é uma exigência do Código Eleitoral como garantia da inviolabilidade do voto).

Cadê o relatório dos Testes do TSE?
O gato comeu?
E quem é o gato nessa história?


Saudações,

Eng. Amilcar Brunazo Filho



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