Uau! Uma aula em tanto. Mas eu fico pensando na questão do aborto, por exemplo. Numa visão libertária como fica o conflito entre o direito da mãe decidir sobre o próprio corpo e o direito à vida da criança em seu ventre?
No caso do aborto, prevalece o direito individual da mulher decidir sobre seu corpo. Ninguém é obrigado a abortar, porém aquelas que desejam, devem ter esse direito.
Mas, Daniel, o vídeo fala que uma das bases do libertarianismo é a defesa do Estado contra a violência do outro em relação às liberdades individuais. Fazer o direito individual da mulher prevalecer sobre o direito à vida da criança não é contraditório? Por que me parece que o direito de nascer é natural, espontâneo (como defende o libertarianismo). Por que, então, a mulher teria esse privilégio contra o direito da criança ou, em outras palavras, pensando no que foi dito no vídeo, quem é que decide isso? Que a mãe teria esse privilégio? Qual a justificativa?
Por que, se for para seguir a lógica do vídeo, natural e espontâneo é nascer. Abortar, como decisão pessoal, não. Por isso acho contraditório. Até mesmo porque o aborto é limitar a liberdade da criança, assim, de acordo com o vídeo, precisa de uma justificativa. É uma coerção da mãe sobre a criança. E o direito ao aborto seria uma afronta contra a liberdade natural da criança que está em direção ao nascimento. A criança não deveria ser livre para nascer?
O que define a criança em gestação como um ser humano de segunda classe que tem menos direitos à liberdade, à vida e a busca da felicidade do que sua mãe?
Enfim, o que eu acho paradoxal é que se quebre as três regras apresentadas no vídeo à favor da mãe em detrimento da criança: 1) o aborto é uma violência contra a criança; 2) a mãe está tirando a vida do filho (que é o bem maior e mais natural que lhe é conferido como ser-humano); e 3)a sociedade está quebrando a promessa que é garantida em Constituição de proteger essa vida. Estes três princípios foram apresentados como a essência da civilização, mas não são levados em conta na defesa da criança. Qual a justificativa?
Isso é muito simples: no caso de estupro você obrigaria a mulher a gestar 9 meses um filho que não quer?
Você considera por exemplo um óculo fecundado como se fosse um ser humano????
Se você disser sim a essas perguntas então você está praticando violência antes de tudo contra a mulher que terá que viver conforme uma ditadura imposta, vítima de toda sorte de criminosos.
Mas, Daniel, você só citou casos de exceção. A maioria de casos de aborto não seguem este perfil. As mães abortam por razões econômicas, de pouca idade ou porque o parceiro não vai ajudar e os pais dela não querem arcar, etc. Se os milhares de abortos que estão acontecendo agora fossem pela razão de estupros estaríamos vivendo, então, uma anarquia social sem precedentes. Assim, creio que justificar o todo pela exceção não ajuda em nada e só enfraquece o argumento pró-aborto.
Veja que estranho que foi seu argumento. Uma jovem classe média, 14 anos, fica grávida de uma relação com seu namorado e agora resolve abortar... "Você é a favor do aborto em caso de estupro?", você me pergunta. Sim, respondo eu. Aí, você vira para essa menina da situação citada acima e diz que está tudo bem, então, o direito dela é superior ao direito à vida do filho, porque o aborto é válido em caso de estupro... Acho um argumento sem pé nem cabeça!
Nenhum caso particular (no caso o estupro) pode justificar uma lei geral! Porque, olha mais uma vez a contradição, você está ferindo exatamente os princípios do Libertarianismo. Os princípios são gerais e devem se aplicar aos casos particulares. O que você argumentou é exatamente o contrário do que o Libertarianismo prega. Em outras palavras, continua sem justificativa. E, de acordo com o vídeo, as justificativas tem de ser naturais e espontâneas. Até aqui, prevalece o direito a nascer, porque este é natural e espontâneo. O aborto planejado, o estupro e outros casos de exceção não são nem naturais e nem espontâneos, daí não podem ser usados como justificativas para que se prevaleça o direito da mãe sobre o filho, pelo menos seguindo a lógica do Libertarianismo.
Hummmm... Interessante. Mas aí, Daniel, na prática, no libertarianismo, como que se equacionaria um Estado que precisa defender a vida contra a violência de um grupo que pensa que o aborto não é violência e outro que advoga que é violência?
É aí que eu acho que é complicado, porque, veja, esbarramos nos conceitos dos grupos. Quando a vida começa é só um item que pode gerar uma tensão tal que justifique a intervenção do Estado e que anule o propósito do libertarianismo. Outro exemplo que pode seguir a mesma linha é o caso da pedofilia. Se um grupo alegar que crianças tem direito ao prazer sexual com adulto ou que, havendo consentimento do menor, não se pode considerar estupro ou pedofilia, então, como aconteceu no exemplo do aborto, deixa-se de ser estupro. E assim por diante. Logo, ficaríamos sempre presos ao lobby, isto é, não à força do melhor argumento, mas do grupo mais forte (seja ele mais forte economica, politica ou militarmente).
Na prática, embora eu seja anti-estatal, anti-esquerdista, anti-intervencionista, mas o que se revela é que a vida real é bem mais complexa do que resumir tudo a três regras gerais.
Mas é um assunto realmente muito interessante e sedutor. Pensarei mais sobre isso.
O fato é: ninguém define o início da vida. Portanto ninguém pode obrigar a ideia de que a vida começa na fecundação. Na Inglaterra qualquer mulher pode abortar até 6 meses de gestação e não há problema algum com isso.
8 comentários:
Uau! Uma aula em tanto. Mas eu fico pensando na questão do aborto, por exemplo. Numa visão libertária como fica o conflito entre o direito da mãe decidir sobre o próprio corpo e o direito à vida da criança em seu ventre?
Abraços sempre afetuosos.
Fábio.
No caso do aborto, prevalece o direito individual da mulher decidir sobre seu corpo. Ninguém é obrigado a abortar, porém aquelas que desejam, devem ter esse direito.
Mas, Daniel, o vídeo fala que uma das bases do libertarianismo é a defesa do Estado contra a violência do outro em relação às liberdades individuais. Fazer o direito individual da mulher prevalecer sobre o direito à vida da criança não é contraditório? Por que me parece que o direito de nascer é natural, espontâneo (como defende o libertarianismo). Por que, então, a mulher teria esse privilégio contra o direito da criança ou, em outras palavras, pensando no que foi dito no vídeo, quem é que decide isso? Que a mãe teria esse privilégio? Qual a justificativa?
Por que, se for para seguir a lógica do vídeo, natural e espontâneo é nascer. Abortar, como decisão pessoal, não. Por isso acho contraditório. Até mesmo porque o aborto é limitar a liberdade da criança, assim, de acordo com o vídeo, precisa de uma justificativa. É uma coerção da mãe sobre a criança. E o direito ao aborto seria uma afronta contra a liberdade natural da criança que está em direção ao nascimento. A criança não deveria ser livre para nascer?
O que define a criança em gestação como um ser humano de segunda classe que tem menos direitos à liberdade, à vida e a busca da felicidade do que sua mãe?
Enfim, o que eu acho paradoxal é que se quebre as três regras apresentadas no vídeo à favor da mãe em detrimento da criança: 1) o aborto é uma violência contra a criança; 2) a mãe está tirando a vida do filho (que é o bem maior e mais natural que lhe é conferido como ser-humano); e 3)a sociedade está quebrando a promessa que é garantida em Constituição de proteger essa vida. Estes três princípios foram apresentados como a essência da civilização, mas não são levados em conta na defesa da criança. Qual a justificativa?
Abraços sempre afetuosos.
Fábio.
Isso é muito simples: no caso de estupro você obrigaria a mulher a gestar 9 meses um filho que não quer?
Você considera por exemplo um óculo fecundado como se fosse um ser humano????
Se você disser sim a essas perguntas então você está praticando violência antes de tudo contra a mulher que terá que viver conforme uma ditadura imposta, vítima de toda sorte de criminosos.
Mas, Daniel, você só citou casos de exceção. A maioria de casos de aborto não seguem este perfil. As mães abortam por razões econômicas, de pouca idade ou porque o parceiro não vai ajudar e os pais dela não querem arcar, etc. Se os milhares de abortos que estão acontecendo agora fossem pela razão de estupros estaríamos vivendo, então, uma anarquia social sem precedentes. Assim, creio que justificar o todo pela exceção não ajuda em nada e só enfraquece o argumento pró-aborto.
Veja que estranho que foi seu argumento. Uma jovem classe média, 14 anos, fica grávida de uma relação com seu namorado e agora resolve abortar... "Você é a favor do aborto em caso de estupro?", você me pergunta. Sim, respondo eu. Aí, você vira para essa menina da situação citada acima e diz que está tudo bem, então, o direito dela é superior ao direito à vida do filho, porque o aborto é válido em caso de estupro... Acho um argumento sem pé nem cabeça!
Nenhum caso particular (no caso o estupro) pode justificar uma lei geral! Porque, olha mais uma vez a contradição, você está ferindo exatamente os princípios do Libertarianismo. Os princípios são gerais e devem se aplicar aos casos particulares. O que você argumentou é exatamente o contrário do que o Libertarianismo prega. Em outras palavras, continua sem justificativa. E, de acordo com o vídeo, as justificativas tem de ser naturais e espontâneas. Até aqui, prevalece o direito a nascer, porque este é natural e espontâneo. O aborto planejado, o estupro e outros casos de exceção não são nem naturais e nem espontâneos, daí não podem ser usados como justificativas para que se prevaleça o direito da mãe sobre o filho, pelo menos seguindo a lógica do Libertarianismo.
Abraços sempre afetuosos.
Fábio.
Veja bem, você está partindo da premissa (que eu não concordo) de que um óvulo fecundado é um ser humano. Eis o problema.
Hummmm... Interessante. Mas aí, Daniel, na prática, no libertarianismo, como que se equacionaria um Estado que precisa defender a vida contra a violência de um grupo que pensa que o aborto não é violência e outro que advoga que é violência?
É aí que eu acho que é complicado, porque, veja, esbarramos nos conceitos dos grupos. Quando a vida começa é só um item que pode gerar uma tensão tal que justifique a intervenção do Estado e que anule o propósito do libertarianismo. Outro exemplo que pode seguir a mesma linha é o caso da pedofilia. Se um grupo alegar que crianças tem direito ao prazer sexual com adulto ou que, havendo consentimento do menor, não se pode considerar estupro ou pedofilia, então, como aconteceu no exemplo do aborto, deixa-se de ser estupro. E assim por diante. Logo, ficaríamos sempre presos ao lobby, isto é, não à força do melhor argumento, mas do grupo mais forte (seja ele mais forte economica, politica ou militarmente).
Na prática, embora eu seja anti-estatal, anti-esquerdista, anti-intervencionista, mas o que se revela é que a vida real é bem mais complexa do que resumir tudo a três regras gerais.
Mas é um assunto realmente muito interessante e sedutor. Pensarei mais sobre isso.
Obrigado pela troca de ideias.
Abraços sempre afetuosos.
Fábio.
O fato é: ninguém define o início da vida. Portanto ninguém pode obrigar a ideia de que a vida começa na fecundação. Na Inglaterra qualquer mulher pode abortar até 6 meses de gestação e não há problema algum com isso.
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