sexta-feira, 12 de abril de 2013

A Política do Dislike

URL: http://www.ordemlivre.org/2013/04/dislik/


Comunidades e curtidas no Facebook prometem mudar o mundo, mas mudam mais sua timeline. Curtir a página Close Guantanamo não demonstra que você possui um projeto viável para o seu fechamento, nem liberta um único preso, apenas sinaliza que você é contra o modelo de detenção implementado pelos Estados Unidos naquela prisão. Cliques sinalizam os seus gostos, os seus desejos, as suas ideias e pouco mais.

A política brasileira tem sua própria forma de sinalizar intenções e inclinações off-line. A internet e cobertura jornalística 24 horas por dia coloca os políticos sob pressão constante. Eles precisam reagir a tudo. Precisam responder às demandas. Precisam fazer alguma coisa. Quando um acontecimento choca a população, não se espera que os políticos apareçam pedindo calma. Espera-se que digam que o problema será solucionado, imediatamente, mesmo quando se sabe que a solução em curto prazo é impossível.

Alimentada pelos dois lados, essa relação traz problemas para os políticos e para a população. Em campanha, os políticos apresentam seus superpoderes, capazes de criar empregos, resolverem questões econômicas complexas, e acabar com a violência nas cidades. Depois de eleitos, eles encontram dificuldades para explicar a implementação de projetos cujos resultados só aparecerão em longo prazo. Carentes de soluções, é natural que moradores de uma área violenta tenda a votar em alguém que lhes prometa acabar com a violência e que cobre soluções de curto prazo.

No mercado de políticas paliativas, a demanda por providências por parte da população gera uma oferta de medidas paliativas, de pouco efeito, mas que dão aos eleitores a impressão de que algo está sendo feito para aliviar as suas preocupações. Quando não há soluções disponíveis e a população demanda alguma ação, resta aos políticos sinalizar.

Há pouco mais de uma semana, um casal de estrangeiros foi vítima de um crime no Rio de Janeiro. Eles passaram cerca de seis horas em poder criminosos em uma van. O veículo já tinha sido utilizado pelo grupo para cometer o mesmo tipo de crime. Com a repercussão na imprensa internacional, a polícia agiu rápido para prender a quadrilha.

Chocada, a população pediu providências. E o governo, incapaz de prover soluções imediatas para a violência, ofereceu a proibição do uso de películas escuras nos vidros das vans do Transporte Especial Complementar. A redução da violência é uma política de longo prazo, mas no curto prazo os políticos precisam fazer alguma coisa.

Então eles apertam o botão deslike. Não curtem. Sinalizam que não gostam de um fato impondo uma legislação que, como a curtida na Close Guantanamo, é apenas um sinal, sem custo nem efeito prático. Reconhecem a existência do problema e, mesmo sem um plano concreto para lidar com ele, acenam com uma ação qualquer.

Lembram da proibição à garupa nas motos para diminuir os assassinatos? Da proibição do uso de celulares e equipamentos eletrônicos em estabelecimentos que tenham caixas eletrônicos para diminuir os assaltos? E a proibição de cadeiras e mesas sobre bueiros no Rio de Janeiro para diminuir o número de feridos em explosões? Pouco se sabe sobre o efeito dessas leis sobre a criminalidade em seus estados. O que sabemos é que o dia a dia de pessoas comuns, sem nenhuma relação com o crime, foi afetado por essas medidas.

O estado do Rio de Janeiro registrou 6 mil casos de estupro no ano passado. A proibição às películas nos vidros das vans envolvidas no transporte público expõe os passageiros ao sol e ao calor, mas não ataca mais de 99% desses casos.

No mercado de políticas paliativas, há sempre uma proibição em oferta para nos dar a ilusão de que nós não precisamos mais nos preocupar com problema algum.

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