sábado, 28 de janeiro de 2012

Pinheirinho e a torcida pela morte

URL: http://www.implicante.org/blog/pinheirinho-e-a-torcida-pela-morte/


Não se tinha ainda informação alguma, mas os militantes do tuíter já emplacavam uma hashtag sobre a reintegração de posse do Pinheirinho, em SCJ. Cravaram, mesmo sem informação, o #MASSACREPINHEIRINHO – em seguida rolando uma espécie de bingo/bolão de cadáveres. Chegou-se a um consenso-do-chute: sete mortos.

Um cartunista-de-ocasião providenciou charge com sangue escorrendo de um plano do desenho representado pelos antigos ocupadores da favela. Militantes pediam intervenção da OEA, ONU, Tribunal de Haia (juro), entre outras entidades.

Os discursos eram inflamados a respeito disso. Nazismo! Fascismo! Neoliberalismo! Gritavam em letras de forma, todos muito preocupados com as vidas humanas supostamente perdidas e, claro, jamais interessados na disputa política paralela a isso. São apenas humanistas, ora!

Mas então, a verdade: não morreu ninguém. E daí todos comemoraram? Ficaram felizes e aliviados, cantando a alegria de não ter havido qualquer óbito? Não. Nada. A reação a isso foi um silêncio nada sorridente, com direito a gente soltando os já famosos "vamos esperar" ou variações do primoroso "podem ter escondido isso".

Não, não esconderam nada, e já se aguardou mais que o suficiente: não morreu ninguém. Nada. Não há os sete nem cinco nem meio morto por conta da reintegração de posse. A raiva mal engolida dos que apostavam numa chacina pode ser por conta de terem falado uma bobagem irresponsável, então desmentida, ou por ter perdido uma chance eleitoral. Difícil saber o motivo, mas também impossível não perceber que a grande maioria da militância ficou contrariada pela falta de mortos.

E então, surge o Dr. Aristeu Pinto Neto, advogado, que falaria "em nome da OAB". O que ele disse: há/havia mortos, inclusive crianças – fariam uma busca pelo IML ou algo assim. As declarações foram veiculadas pela TV Brasil, subordinada à EBC, aquela nossa velha conhecida que contrata a preço de ouro gente de material não tão nobre.

UOL e Terra repercutiram a notícia e… PRONTO! O silêncio aborrecido da maioria da militância deu vez novamente à gritaria sobre os mortos, mais ou menos como houve lá nas especulações no início da ação. Uma preocupação absurda, como houve em relação às mortes não havidas, nesse momento renascia com o mesmo grau de indignação e solidariedade.

Mas… Pois, é, de novo foi um engano.

O tal "representante da OAB" é, na verdade, advogado dos líderes da ocupação (valendo lembrar que as primeiras “mortes”, inclusive o tal número mágico 7, foram divulgadas por perfis de tuíter também ligados às lideranças dos que ocupavam o Pinheirinho). A própria OAB se manifestou sobre isso, desautorizando o advogado da parte a falar em seu nome (como publicaram EBC/TV Brasil, UOL e Terra). Vejam aqui.

Todos então passaram a comemorar que mais uma vez ninguém faleceu? Não, nada. Voltaram ao silêncio macambúzio militante diante da não-chacina.

Quem sabe amanhã ou depois alguém não lhes devolva a euforia com algum novo boato? Não custa ter esperança.

ps. – o líder do Pinheirinho é o sr. que atende por Marrom. Aqui e aqui há notícias sobre ele, que segundo as reportagens não mora nem relativamente próximo ao acampamento (mas sim no Morumbi) e recebe grana de um sindicato ligado ao PSTU – com direito a um integrante de tal partido dizer que é normal, desse modo, levar gente do Pinheirinho para fazer número em suas manifestações. É esse tipo de gente, afinal, que mais prejudica as reinvindicações dos que realmente sofrem, pois precisam das pessoas sofridas para fazer seu lobby ideológico – e, claro, há o fator financeiro que não pode ser esquecido.

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