Enquanto economia do país enfrenta dificuldades, Néstor e Cristina são
acusados pela oposição de enriquecimento ilícito
Acossados por uma série de problemas na economia do país, a presidente
da Argentina, Cristina Kirchner, e seu marido, o ex-presidente Néstor
Kirchner, têm desde ontem mais um desafio a enfrentar. A oposição
denunciou o "casal K" à Justiça por suposto enriquecimento ilícito e
por usar informações privilegiadas na compra de US$ 2 milhões em
outubro de 2008.
Adenúncia, apresentada pela Coalizão Cívica, acusa os Kirchner de terem
cometido um delito previsto no artigo 268 do Código Penal argentino. No
inciso I, o artigo prevê pena de um a seis anos de prisão para o
funcionário público "que utilizar, com fins de lucro, para si ou para
terceiros, informações ou dados de caráter reservado sobre os quais
tenha tomado conhecimento devido ao cargo que ocupa". O objetivo da
oposição é levar a Justiça a reabrir as investigações sobre o aumento
da fortuna pessoal do casal presidencial. A Coalizão Cívica é uma
aliança de partidos criada em 2007, que tem como líder a ex-candidata a
presidente Elisa Carrió.
A aquisição dos dólares por Néstor Kirchner ocorreu exatamente no ano
em que a declaração de bens do casal apresentou um crescimento de 158%
no patrimônio. No primeiro ano de mandato de Cristina, em 2008 (ela
tomou posse em dezembro de 2007), o patrimônio dos Kirchner saltou de
US$ 4,69 milhões para US$ 12,11 milhões. A fortuna aumentou quase 500%
desde que Néstor chegou ao poder, em maio de 2003. No entanto, no ano
passado, a Justiça absolveu os dois no processo em que eram acusados de
suposto enriquecimento ilícito.
Néstor Kirchner disse que comprou os dólares para adquirir ações de um
hotel em El Calafate, cidade turística na província de Santa Cruz, seu
reduto eleitoral. Mas a compra dos dólares ocorreu três semanas após a
falência do Lehman Brothers, em plena crise financeira mundial, com uma
alta volatilidade nos mercados, especialmente no câmbio. Naquele
momento, o BC argentino aumentava suas intervenções no mercado, para
evitar uma forte desvalorização do peso argentino.
Quando Néstor Kirchner comprou os dólares, no último trimestre de 2008,
a fuga de capitais do país chegou a US$ 6,6 bilhões, valor superior à
saída de recursos verificada no trimestre anterior, que atingiu US$ 5,8
bilhões. A Receita Federal argentina e o BC adotaram novas normas para
conter a corrida pela compra de dólares, que continuou no primeiro
semestre de 2009. Na ocasião, Cristina fazia duros discursos criticando
a fuga de capitais e pedindo aos argentinos que não comprassem dólares.
Em meados do ano passado, repetiu o teor de seus discursos durante
solenidade na Bolsa de Buenos Aires.
Cristina saiu ontem em defesa do marido e negou qualquer irregularidade
na compra dos dólares. Segundo ela, o maior problema de Néstor Kirchner
é "ser honesto na Argentina".
Também ontem, Cristina confirmou o afastamento de Martín Redrado da
presidência do Banco Central e nomeou Mercedes Marcó Del Pont para
substituí-lo. Atual presidente do Banco de la Nación, Mercedes é amiga
de Cristina. Ela será substituída por Juan Carlos Fabregas, funcionário
de carreira do banco.
Buenos Aires --
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