segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ciclos da eleição presidencial

Ciclos da eleição presidencial

"Se tiver saúde, já que idade para isto terá, Lula certamente irá
disputar em 2014 e, se eleito, tentará a reeleição"

Antônio Augusto de Queiroz*

Com exceção de Collor, que não tinha partido forte, todos os
presidentes eleitos com base na Constituição de 1988 tinham planos de
20 anos de poder, com alternância entre seus aliados. FHC foi o
primeiro a conceber essa idéia, manifestada publicamente por Sérgio
Mota, seu poderoso ministro das Comunicações. Eleito em 1994 para um
mandato de quatro anos, FHC propôs alteração na Constituição para ficar
oito, período em que prepararia um sucessor, que poderia ser Mário
Covas, Luiz Eduardo Magalhães, José Serra ou Tasso Jereissati. Alckmin
nesta época era um obscuro vice-governador.

Com as mortes de Sérgio Mota, o estrategista, de Luiz Eduardo, líder
pefelista em ascensão à época, e de Mário Covas, o candidato natural, o
terceiro mandado seria disputado por José Serra, um dos melhores
quadros do PSDB.

O PT, percebendo que o ciclo de 20 anos no poder do PSDB/PFL poderia se
concretizar, caso José Serra fosse eleito sucessor de FHC, resolveu
atuar fortemente para interrompê-lo. Buscou aliança com o setor
empresarial, que indicou o vice da eleição de 2002, contratou um bom
marqueteiro, captou muito recurso para a campanha e divulgou a "Carta
ao Povo Brasileiro" para acalmar o mercado.

Com uma campanha bem sucedida, o PT enfrentou e derrotou o melhor nome
do PSDB, José Serra. Ele participou do pleito em circunstância
desfavorável, dada a percepção de que o seu avalista, FHC, havia
privatizado o Estado, desprezado os assalariados (aposentados,
servidores e trabalhadores da iniciativa privada), abandonado os pobres
brasileiros e permitido corrupção no governo.

Agora repete-se o quadro, com o PT há oito anos no poder e com o plano
de completar 20. O PSDB, naturalmente, fará todo o possível para
interromper essa trajetória, assim como fez o PT em relação aos
tucanos em 2002.

Tal como no PSDB, no PT os sucessores naturais foram sendo afastados da
disputa. No caso tucano/pefelistas por morte física dos principais
nomes e no caso do PT por morte política, com denúncias de envolvimento
em escândalos financeiros (mensalão) e perseguição política (episódio
da quebra de sigilo do caseiro).

Na eleição para o terceiro mandato tucano, o PSDB tinha o melhor
candidato mas as circunstâncias não eram favoráveis. Já na eleição para
o terceiro mandato petista, as circunstâncias são favoráveis – com
grande popularidade do presidente e de seu governo, além do crescimento
econômico e dos programas sociais – mas a candidata ainda está sendo
lapidada.

Assim, para interromper o ciclo petista, o PSDB jogará todas as suas
fichas na eleição, não sendo nenhum absurdo Aécio Neves ser convocado
para formar a chapa como vice, naturalmente com o compromisso de ser o
candidato em 2014 e com a garantia de que terá todas as condições para
isto, ficando com o direito de anunciar as melhores decisões do governo.

O PSDB tem a clareza política de que a chance é agora, e fará o
possível e o impossível para ganhar, exatamente porque Lula não é
candidato neste pleito, mas certamente será em 2014, podendo buscar uma
reeleição em 2018, quando o PT completaria os 20 anos no poder.

Pode parecer um despropósito essa análise, mas ela tem todo o sentido,
senão vejamos.

Lula disputou cinco eleições (1989, 1994, 1998, 2002 e 2006), venceu as
duas últimas e perdeu as três primeiras.

Das que perdeu, deu graças a Deus pela derrota apenas em 1989, por
falta de maturidade e preparo para o exercício da Presidência, mas
deixou a entender que em 1994 e 1998 já poderia ter sido presidente,
considerando-se credor ou injustiçado em relação a essas duas eleições.

Que tal em 2014 e em 2018, respectivamente 20 anos depois, ir atrás
daqueles dois mandatos que lhes foram negados nas urnas (94 e 98)? Se
tiver saúde, já que idade para isto terá, certamente irá disputar em
2014 e, se eleito, tentará a reeleição. Portanto, os tucanos sabem que
a chance deles é agora. Vão chutar do joelho para cima, porque se
perderem ficarão alijados do poder pelo menos até 2022, quando apenas
Aécio, dos nomes atuais, teria condições físicas de disputar uma
eleição presidencial. O ciclo pode ser fechado. *Jornalista, analista
político e Diretor de Documentação do Diap. --
http://congressoemfoco.ig.com.br/noticia.asp?cod_publicacao=31580&cod_canal=4


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