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Mário Coelho
O site de relacionamentos que virou mania entre os jovens brasileiros também se tornou um lugar para o debate, a apresentação de propostas e a crítica política. O Orkut, criado em 2004 por um engenheiro da Google, hoje possui mais de 60 milhões de usuários cadastrados. E uma parte deles usa o sistema para colocar suas opiniões na rede de discussões.
Com a quantidade de usuários cadastrados – sendo que pouco mais da metade são brasileiros –, seria natural que parlamentares e governantes tornassem o Orkut uma ferramenta de comunicação com seus eleitores. E os eleitores usassem o espaço livre da internet para sugestões, elogios, críticas e reclamações.
Pensando nisso, a jornalista Isabella Tavares desenvolveu uma monografia para o curso de especialização em Comunicação Legislativa da Universidade do Legislativo (Unilegis). O texto, intitulado O Parlamento brasileiro e o Orkut foi apresentado em 1º de dezembro do ano passado e obteve conceito máximo.
A idéia inicial era saber como as opiniões políticas se refletiam nas comunidades. A impressão era de o Orkut seria um espaço para manifestações contra a política. Isabella, ao colher os dados, surpreendeu-se: as comunidades de apoio aos parlamentares são em maior número que as de crítica.
"Isso demonstra que, a despeito de não ser utilizado em todo o seu potencial, o Orkut constituiu-se em via de mão dupla: os eleitores reclamam, mas também fazem propaganda dos políticos e partidos de sua preferência", explica Isabella. Os parlamentares, por sua vez, aponta Isabella, têm a chance de responder às críticas e de expor suas idéias.
A jornalista, então, partiu para a pesquisa de campo. Dentro do Orkut, digitou o nome dos 513 deputados e 81 senadores que estavam em exercício de mandato em setembro do ano passado. O resultado foi surpreendente: No universo de 594 atores, 447 têm comunidades a eles dedicadas.
"Ou seja, 75,25% dos parlamentares brasileiros estão ali presentes, por vontade própria ou por desejo de eleitores que julgaram interessante fazer esse tipo de divulgação", apontou a tese. Ao todo, foram encontradas 1.789 comunidades destinadas aos deputados e senadores brasileiros.
Os números mostram que um grupo seleto de parlamentares possui muitas comunidades. Pelo levantamento, com base no que havia no Orkut em setembro, 25 parlamentares têm mais de 11 fóruns de discussão. Alguns, entretanto, são alvos das críticas e reclamações – até mesmo ódio – dos internautas.
Críticas e elogios
Mas a pesquisa mostrou que, entre os 513 deputados, 217 (42,30% do total) possuem comunidades positivas. Já dos 81 senadores, 59 (72,84% do total) têm fóruns favoráveis.
Os espaços que não fazem críticas aos parlamentares, segundo a monografia de Isabella, são aquelas que fazem divulgação do mandato e da carreira política do parlamentar. "Geralmente desenvolvidas pelos chamados cabos eleitorais, seus títulos trazem expressões como "eu apóio", "eu acredito", "este é bom", e os conteúdos são repletos de elogios ao trabalho e à conduta pessoal do deputado ou senador", disse.
Na internet, entretanto, a crítica e, muitas vezes, as ofensas, são mais fáceis de virar realidade caso a pessoa se sinta protegida pelo anonimato. Por conta disso, a quantidade de comunidades negativas não é pequena. A pesquisa identificou 178 fóruns críticos destinados a 78 deputados. No Senado, os representantes dos estados acumulavam, em setembro, 163 ocorrências para 34 pessoas.
A pesquisa ainda revelou comunidades remanescentes das eleições de 2006 e casos de parlamentares que possuem outras atividades. Representantes como Celso Russomanno (PP-SP), sobre seu programa de televisão, e do então deputado Frank Aguiar (PTB-SP), atual vice-prefeito de São Bernardo do Campo, sendo elogiado por seus dotes musicais.
Isabella ainda encontrou comunidades curiosas, como algumas fazendo referência à aparência dos parlamentares ou em que fãs se declaram apaixonadas, ou apaixonados, pelos mais bonitões e pelas mais charmosas do Congresso Nacional. "'Orkuteiros' acreditam que alguns deles se parecem com personagens e personalidades da TV", anota a jornalista. Ela aponta os deputados ACM Neto (DEM-BA) e José Eduardo Cardozo (PT-SP) entre os mais paquerados do Parlamento.
Representação
O Orkut, em até determinado grau, é um espelho da vida real. E como tal, reflete a situação política brasileira. Por conta disso, as maiores bancadas no Congresso Nacional – PMDB, PT, PSDB e DEM –, também são as que possuem maior número de representantes no site de relacionamentos.
"Os 116 parlamentares peemedebistas nas duas Casas respondem por 266 comunidades no site, apenas cinco ocorrências a mais que o PT, partido que tem 25 congressistas a menos", revelou. No texto, ela registra que os 73 parlamentares do PSDB têm 225 comunidades (12,58% do total) e os 65 deputados e senadores do DEM aparecem em 199 ocorrências (11,12% do total).
O reflexo e a relação direta vida real-internet acaba por aí. Isabella percebeu que existem situações inversas e curiosas: grandes partidos com número pequeno de comunidades ou pequenos partidos com número elevado de comunidades, proporcionalmente falando. O PTB é um exemplo: é a nona bancada do Congresso, mas fica na sexta colocação em número de comunidades.
"A pesquisa nome a nome dos 513 deputados federais e 81 senadores comprovou que o Orkut é uma arena política, sob vários aspectos. O primeiro está diretamente ligado à enorme adesão a essa rede social, implicando, mesmo, uma falta de escolha dos agentes políticos. Todos estão ali, ainda que não por vontade própria", finalizou a jornalista.
Comunidades
José Genoino
Jader Barbalho
Cida Diogo
José Aníbal
ACM Neto
Ciro Gomes
Manuela D'Ávila
Clodovil Hernandes
Celso Russomanno
Jair Bolsonaro
Paulo Maluf
Frank Aguiar
Fernando Gabeira
21 comunidades, Eu admiro o Fernando Gabeira, 6961 membros
Luciana Genro
Parlamentares ainda não acordaram para internet
Parlamentares ouvidos pelo Congresso em Foco concordam em um fato: os políticos ainda não sabem o poder de alcance da internet, especialmente entre os mais jovens. Entretanto, eles não chegam a um consenso sobre os motivos que levam a uma pequena participação dos colegas na rede mundial de computadores.
Para o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), as regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acabam desistimulando os parlamentares a usarem a internet como plataforma de comunicação com seus eleitores. "O TSE fez as regras por desconhecer as possibilidades da internet", opinou Aleluia.
As regras que o democrata se refere estão na Resolução 22.718/08, que disciplinou o uso da internet pelos candidatos às prefeituras em 2008. Altamente restritiva, a norma só permitia o uso de domínios oficiais pelos políticos, excluindo redes de relacionamento como o Orkut e Facebook, além de sites com alta audiência como You Tube e My Space.
O deputado mantém um site oficial, com 600 e 700 visitas diárias. A página é atualizada diariamente, e Aleluia, inclusive, responde pessoalmente os comentários enviados pelos visitantes. "A internet é uma grande praça de discussão, que pode baratear os custos de comunicação sensivelmente", opinou.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) é outro que aproveita a força da rede mundial de computadores para conversar com eleitores. Tanto que ele mantém um site e um blog atualizados diariamente. "Essa é uma ferramenta que terá muita força em alguns anos", aposta.
Mas o senador vê de outra maneira o pequeno interesse dos parlamentares em usar a internet. Ao ser entrevistado pelo Congresso em Foco, na última segunda-feira (16), dentro do plenário, ele apontou para as mesas dos colegas. "É só você olhar para a sessão e ver que a maioria dos senadores não usa seus lap tops", afirmou Dias, colocando a culpa disso na idade mais avançada dos colegas de parlamento.
Na tentativa de atingir um público formador de opinião, Dias usa a internet diariamente. Segundo o senador, barateia os custos e tem um alcance maior para quem está na oposição. "Estou na oposição federal, estadual e em muitos municípios. Por isso a internet é mais efetiva pra mim."
Uma das formas de comunicação usadas é um informativo semanal com notícias do senador e de política nacional enviado para a mala direta do tucano. Na época do Prêmio Congresso em Foco, quando Dias ganhou a votação de senador com mais destaque, a boletim trazia notícias de como estava a disputa. "Eu divulguei o prêmio. E isso pode ter me ajudado ou não. As pessoas entravam e votavam em quem desejassem", finalizou.