URL: http://bulevoador.haaan.com/2011/02/28/filhos-de-ateus-ficam-na-biblioteca-durante-aula-de-religao/
Editora: Rayssa Gon
Fontes: Paulopes Weblog e Arauto da Consciência
Os pais de dois alunos de Pranchita, no interior do Paraná, fizeram um acordo com a direção da escola pública onde os filhos estudam para que eles deixassem de frequentar as aulas de religião. A professora Eliane Lambert Junkes, 26, e o marido, o caminhoneiro Alberi Junkes, 40, são ateus e defendem o direito de os gêmeos, de sete anos de idade, não serem “doutrinados” sobre a existência de Deus. A mãe de Marco Antônio e João Antônio não admite que as aulas de ensino religioso comecem com uma oração nem que Deus seja tratado como uma entidade real e superior, que zela pela humanidade e tem poderes para julgar as ações dos homens. O acordo foi feito no ano passado -as crianças foram às aulas por quase três anos- e permitiu que, nesse horário, os meninos frequentem a biblioteca.
Eliane diz que a decisão foi amigável. ”Não quero que eles sejam doutrinados a crer. Ninguém precisa ser bom na vida porque tem alguém superior olhando. As pessoas devem ser boas porque isso é correto”, afirma a professora. Eliane acredita que os filhos, quando amadurecerem, poderão adquirir conhecimento suficiente para decidir qual papel a religião terá em suas vidas. ”Quando eles crescerem, teremos condições de conversar melhor”, diz. A mãe dos garotos afirma que, se as aulas tivessem outro tipo de abordagem, como a história das religiões, não se oporia ao aprendizado. ”A história das religiões é importante para contar o processo de formação do homem. Jamais vou privar meus filhos do conhecimento, mas não é o que acontecia na escola”, afirma. Procurado pela Folha, o diretor da Escola Municipal Márcia Canzi Malacarne, Everaldo Canzi, declarou que não daria entrevista por telefone porque considera o tema “complexo e amplo”. Ele negou, no entanto, que as aulas tenham o objetivo de “doutrinar” os alunos a crer e disse que a “diversidade das crianças é respeitada”.
Acho muito importante destacar o comentário de Robson Fernando:
Antes de eu parabenizar e agradecer à família ateia pela atitude, um detalhe ficou mal explicado aqui: se a Constituição (artigo 210, parágrafo 1º) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9.394/1996: caput do artigo 33) estabelecem que o ensino religioso é de matrícula facultativa, deve respeitar a diversidade religiosa e não deve ter caráter proselitista, por que foi necessário um acordo para que os meninos ficassem livres das aulas de religião? Estaria a escola tornando o ensino religioso obrigatório e lhe imbuindo caráter proselitista e confessional, por iniciar as aulas com orações cristãs e fazê-las afirmar que existe um deus verdadeiro (ignorando outros deuses e deusas e as religiões não teístas)?
Poderiam ter processado a escola por infringir a lei, de modo que ela, ao ser obrigada a ajustar sua conduta, não repetiria a delinquência com outras crianças de minorias religiosas ou irreligiosas. Mas, pelo visto, preferiu-se um acordo amigável, e é provável que tenham ameaçado levar o caso à Justiça antes que a proposta do acordo tivesse sido apresentada.
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