quinta-feira, 23 de setembro de 2010
O sentido da arte
Há coisas que nunca imaginei que viveria para ver. Elas incluem assistir ao PT no comando da fisiologia nacional (sim, "mea culpa, mea maxima culpa", eu fui um dos trouxas que acreditaram que o partido era "diferente") e testemunhar o pedido da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para que os trabalhos do artista pernambucano Gil Vicente sejam excluídos da Bienal de São Paulo, que começa neste sábado.É verdade que os desenhos da série "Inimigos" são fortes. Eles retratam o próprio artista atentando contra a vida de figuras públicas como Lula, Fernando Henrique Cardoso, Bento 16 e o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Mas, como já escrevi algumas vezes neste espaço, ninguém precisa de licença para dizer o que todos querem ouvir. Para fazer sentido, as garantias constitucionais à liberdade de expressão precisam ser robustas. Devem necessariamente abranger discursos, textos e imagens capazes de chocar e até de causar a revolta de parcelas da sociedade. Que boa parte dos cidadãos não entenda isso e proteste contra a exibição de obras específicas é esperado; que o presidente da OAB caia nessa mesma esparrela e advogue pela censura é sintomático da decadência dessa instituição, que já desempenhou papéis mais nobres na história deste país. Mas não pretendo, na coluna de hoje, falar mal da OAB. Isso eu já fiz num texto mais antigo. O que eu quero discutir é a arte.Para que diabos ela serve? A questão é das mais polêmicas entre neurocientistas. A exemplo do que se dá com a religião, os especialistas podem ser divididos no bloco dos que acreditam que a arte é uma adaptação humana obtida por seleção natural e o dos que pensam que ela é apenas um efeito colateral resultante da forma como nossos cérebros estão montados. No primeiro grupo encontram-se pesos-pesados do neodarwinismo, como o eterno Richard Dawkins, Stephen Jay Gould e Steven Pinker. No segundo, estão o próprio Charles Darwin (para ele, o senso estético era uma faculdade intelectual fruto da seleção), a antropóloga Ellen Dissanayake, o psicólogo Geoffrey Miller, e a dupla dinâmica da psicologia evolutiva, John Tooby e Leda Cosmides, que mudaram de lado, abandonando a tese da arte como subproduto para abraçar a teoria da adaptação. Mas prossigamos com um pouco mais de calma, pois essa é uma questão extremamente controversa e que envolve conceitos complicados.Leia mais (23/09/2010 - 07h00)
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