quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Filhos do presidente do PMDB-DF recebem verba de publicidade do Planalto; um deles ainda é funcionário-fantasma na Câmara

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Tadeu Filipelli é vice do governador Agnelo Queiroz (PT-DF); empresa de seus filhos recebe mais dinheiro da Presidência do que veículos de grande circulação

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Reportagem da Folha de S. Paulo:

Uma empresa de dois filhos do vice-governador do Distrito Federal e presidente do PMDB local, Tadeu Filippelli, recebeu dinheiro de publicidade da Presidência da República.

A Aerochannel Sinalização Ltda, que tem como sócios Bruno, 34, e Roberto Filippelli, 33, levou R$ 242 mil da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República). O pagamento foi feito em uma única parcela, em janeiro deste ano.

A empresa vende serviços de publicidade eletrônica no Aeroporto Internacional de Brasília.
Ela faz parte de um grupo de 49 empresas enquadradas como “mídias externas e alternativas”, o que abarca desde outdoors de rua até propaganda em monitores de metrô, ônibus e elevadores.

A Aerochannel é a 6ª dessa lista de 49 –que, no total, receberam cerca de R$ 4,8 milhões da Secom entre janeiro do ano passado e julho deste ano, único período cujos dados estão hoje disponíveis.

Se comparada com o que foi despendido com jornais, por exemplo, a verba paga para a empresa dos Filippelli é semelhante e, em alguns casos, superior à destinada a publicações de alta circulação, como o “Correio Braziliense”, “Estado de Minas” e o “Valor Econômico”.

A empresa afirma que recebeu o dinheiro para veicular vídeos do governo, mas que repassou posteriormente a maior parte da verba para outras companhias, que detêm concessões em outros aeroportos.

Tadeu Filippelli é do grupo político do vice-presidente da República, Michel Temer. Faz parte da ala que comanda o PMDB nacionalmente.

Em junho, um dos sócios da Aerochannel, Bruno Filippelli, se casou num castelo, na Itália. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), representaram o partido na cerimônia.

Em 2009, a Folha revelou, durante o escândalo da Operação Caixa de Pandora, que a Aerochannel havia sido beneficiada pelo governo do DF com repasses de pelo menos R$ 4 milhões para serviços de publicidade entre 2007 e 2009.

Filipelli, à época deputado federal, era um dos principais aliados do ex-governador José Roberto Arruda, acusado de ser o chefe do esquema de compra de apoio político desbaratado pela Polícia Federal na operação.

Desde 2000, a empresa tem uma concessão da Infraero (estatal que administra os aeroportos públicos) para atuar dentro do aeroporto de Brasília com publicidade em monitores eletrônicos.

Os filhos de Filipelli entraram na empresa a partir de 2004. Dois anos depois, sem abrir nova licitação, a Infraero multiplicou por oito o número de monitores que a empresa poderia usar.

A verba para a Aerochannel foi repassada por meio de subcontratação pela Propeg Comunicação, agência contratada oficialmente para cuidar da publicidade da Secom.

A Folha só conseguiu identificar os valores recebidos pela Aerochannel porque, depois de anos de recusa, a Presidência passou a divulgar em seu site o caminho deste dinheiro.

OUTRO LADO

A Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência e o vice-governador do DF, Tadeu Filippelli (PMDB), negaram influência política na destinação de dinheiro de publicidade da Presidência da República para a Aerochannel Sinalização.

Em nota, a Secom afirmou que a Aerochannel foi contratada “em virtude da sua grande cobertura no país”. “As ações de comunicação realizadas junto a Aerochannel abrangeram 12 aeroportos”, disse.

“Esse tipo de veículo está inserido no meio classificado como “mídia alternativa”, juntamente com outros formatos digitais semelhantes”, afirmou a assessoria da Secom.

Um dos filhos de Filippelli, Roberto, deu uma versão diferente. Disse que representou um grupo de empresas que atuam em 13 aeroportos ao receber os R$ 242 mil da Propeg Comunicação. A Aerochannel teria ficado, segundo ele, com R$ 46,4 mil do total.

“Neste caso, a Aerochannel atuou como representante da rede, recebendo da Propeg os custos globais da veiculação da campanha e repassando a cada uma das empresas integrantes da rede os valores específicos”, contou. Ele afirmou que, junto com o irmão, tem 33% de sociedade na empresa.

Segundo ele, a Aerochannel foi contratada em janeiro para promover a campanha “Brasil 2011″ para o governo. A empresa, segundo ele, é “é reconhecida por seu profissionalismo no ambiente em que atua”.

A defesa foi reforçada pelo vice-governador Tadeu Filippelli.

“As atividades empresariais dos meus filhos não se misturam às minhas atividades políticas. Até onde tenho conhecimento, por ser classificada como um veículo de comunicação, a Aerochannel é incluída nos planos de mídia das agências de publicidade”, afirmou.

Procurada, a Propeg disse, por escrito, que, por questões contratuais com a Secom, não poderia se manifestar sobre o assunto. “Não estamos autorizados a divulgar informações acerca da prestação de serviços objeto do contrato, exceto com a prévia e expressa autorização da contratante.”

(grifos nossos)

Fantasma

Em julho, reportagem de Veja.com revelou que Bruno Filipelli é funcionário do escritório do deputado Pedro Chaves (PMDB-GO) na Câmara, mas passa o dia cuidando da própria empresa, a tal Aerochannel:

O filho do vice-governador do Distrito Federal é funcionário-fantasma em um gabinete na Câmara dos Deputados. Bruno Ervilha Filippelli, herdeiro do peemedebista Tadeu Filippelli, deveria trabalhar no escritório do deputado Pedro Chaves (PMDB-GO). Apesar de receber quase 10 000 reais dos cofres públicos por mês, Bruno não aparece na Câmara. Ele dá expediente em outro lugar: a empresa que controla com o irmão.

É na Aero Channel, companhia que comercializa paineis de publicidade, que o filho do vice-governador trabalha. Além do salário, Bruno obtém outro benefício com a sua nomeação no gabinete do deputado: o filho do vice-governador é servidor de carreira do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Como foi requisitado para  trabalhar na Câmara, ele pode dar expediente diariamente na própria empresa sem ter de prestar contas e, ao mesmo tempo, mantém a possibilidade de reassumir o cargo no Tribunal de Justiça quando quiser.

Mais do que isso: aos mais de 6 000 reais que recebe do tribunal, ele acresceu uma gratificação 3 540 reais, paga pela Câmara. No fim das contas, passou a ganhar mais para trabalhar menos – ou nada.

Uma funcionária da Aero Channel confirmou ao site de VEJA que Bruno trabalha na empresa diariamente: “Ele costuma ficar aqui, mas ainda não voltou depois do casamento”, disse. O empresário se casou no dia 7 de junho, em uma festa milionária. A cerimônia foi realizada em um castelo na Itália, nas imediações de Roma. As fotos estão num site de coluna social de Brasília. Três dias antes, ele havia entrado oficialmente de férias de seu cargo na Câmara. Deveria ter retornado ao trabalho no dia 25. Mas não apareceu. No gabinete, uma servidora identificada como Geralda confirmou que Bruno é lotado no escritório de Pedro Chaves, mas não soube dizer o serviço prestado por ele. Também disse não saber o paradeiro de empresároi nem o número de telefone do herdeiro de Tadeu Filippelli.

Os 19 dias de férias em junho, aliás, não foram os únicos em 2012: Bruno ficou oficialmente fora do trabalho pela Câmara entre os dias 5 de janeiro e 3 de fevereiro. Antes disso, mais repouso: de 6 a 20 de dezembro do ano passado. Tudo isso tendo assumido o cargo na Câmara em fevereiro de 2011. Saldo final: em sete meses, o filho do vice-governador tirou 64 dias de férias. E nem precisava.

Resposta - Bruno Filippelli não foi localizado para comentar o caso. A assessoria do deputado Pedro Chaves afirmou, sem detalhes, que o empresário não comparece ao gabinete porque “presta serviços externos junto aos órgãos federais”. Ainda assim, reconheceu que, depois das férias que deveriam ter se encerrado em 22 de junho, o filho do vice-governador não retornou ao “trabalho”.

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(grifos nossos)

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