quarta-feira, 6 de julho de 2011

"Poluição ataca até o cérebro, aponta estudo" - Jornal da Tarde | Rede Nossa São Paulo

"Poluição ataca até o cérebro, aponta estudo" - Jornal da Tarde
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Publicado em: 06/07/2011 - 11:13

MARIANA LENHARO
ALEXANDRE GONÇALVES

Comprovadamente prejudicial à saúde dos sistemas respiratório e
cardiovascular, a poluição também está ligada à deterioração do
cérebro. Foi o que concluiu um estudo da Ohio State University (EUA)
publicado ontem pela revista científica Molecular Psychiatry. De acordo
com os pesquisadores, as evidências indicam que a poluição pode
interferir no surgimento de doenças neurodegenerativas, como o
Alzheimer, por exemplo.

No experimento, um grupo de camundongos foi exposto ao ar poluído e o
outro permaneceu em um ambiente com ar filtrado. O nível da poluição
usada, segundo os pesquisadores, foi semelhante ao que se encontra nas
grandes cidades industrializadas, como São Paulo, com a presença de
partículas poluentes menores que 2,5 micrômetros – quanto menores, mais
nocivas elas são ao corpo.

Após 10 meses de exposição, os animais foram submetidos a uma série de
testes comportamentais que avaliaram o aprendizado e a memória, além da
presença de ansiedade e de depressão. Os camundongos expostos à
poluição se mostraram mais depressivos, mais ansiosos e com mais
dificuldade de aprendizado.

"Os resultados sugerem que a exposição prolongada ao ar poluído tem
visíveis efeitos negativos para o cérebro, o que pode levar a vários
problemas de saúde", afirma a autora do estudo, Laura Fonken. Para ela,
essas conclusões têm implicações importantes para pessoas que vivem e
trabalham em áreas urbanas poluídas.

Os cérebros dos camundongos também foram avaliados. Nos neurônios
daqueles submetidos ao ar poluído foram encontradas alterações físicas
relevantes quando comparadas ao outro grupo. "A poluição aumenta o
estresse oxidativo de todas as células", explica a psiquiatra Fernanda
Piotto Fralonardo, da Faculdade de Medicina do ABC.

"O neurônio é uma célula também e, a partir desse processo, ele tende a
ter menos conexões", analisa. Quanto mais conexões as células cerebrais
fazem, mais o indivíduo absorve informações.

O coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de
São Paulo (USP), Paulo Saldiva, lista trabalhos que chegaram a
resultados semelhantes. Em um deles, sua equipe submeteu roedores à
fuligem paulistana e identificou um impacto significativo na memória.
"Está crescendo o número de estudos sobre esse impacto no sistema
nervoso", constata.

O levantamento da Molecular Psychiatry mostra que os efeitos cerebrais
da poluição podem ter a ver também com mudanças no humor dos pacientes.
"A exposição a partículas poluidoras está relacionada à potencialização
da asma e de outras doenças cardiopulmonares. E a alta inflamação das
vias aéreas e a asma estão associadas ao humor negativo", informa o
estudo.

Segundo o pneumologista José Roberto de Brito Jardim, da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), é conhecido entre os especialistas que
os pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) – um dos
problemas respiratórios relacionados à poluição – têm mais depressão do
que as pessoas saudáveis.

"A hipótese é a de que a circulação dos mediadores inflamatórios por
causa da doença possa atingir e estimular o centro da depressão no
cérebro."

Pesquisas anteriores já relacionaram a poluição a quadros de sinusite,
bronquite, faringite, asma, pneumonia e DPOC. Além disso, o ar poluído
pode contribuir para o surgimento de doenças cardiovasculares como
arritmia, hipertensão, enfarte, aterosclerose, angina e acidente
vascular cerebral (AVC). Os estudos também ligam as condições
ambientais a riscos de aborto espontâneo e desenvolvimento de tumores.
-- http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/16526


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