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Um dirigente do PT/BH foi preso sob acusação de estupro, e quem o acusou foi sua então enteada, que tinha nove anos quando dos fatos relatados – a irmã dessa vítima também acusou Nartagman (esse é seu nome) de tentar acariciá-la. Além disso, ele foi acusado de outro estupro, dessa vez por uma maior de idade que trabalhava como doméstica nessa mesma casa.
É um caso grave (já abordado por nós), mas que ganha agora certa complexidade diante do fato de que o mesmo Nartagman fez parte da COMISSÃO ORGANIZADORA de um evento da, digamos, seccional mineira dos blogueiros progressistas. Havia convidados, patrocinadores (dentre os quais, o próprio PT) e, claro, os organizadores. Ele foi um dos nove, tendo mediado debate sobre "exercício da liberdade na rede" – há triste ironia nisso, convenhamos.
Esse evento ocorreu em junho de 2011; Nartagman foi condenado em 2010 e, sem segunda instância, em maio deste ano. Pois é: estava foragido da justiça quando ajudou a organizar o encontro progressista.
Embora alguns petistas dizem que tenha sido afastado, consta de seu perfil no twitter que seria Secretário de Organização do PT (além do adendo "sempre de bem com a vida…"). Além dessa informação no campo "bio", ele mantinha diálogos freqüentes com outros integrantes do partido – e em nenhum momento, até sua prisão, qualquer petista de BH o desautorizou quanto à titulação exposta no referido perfil.
Pesos e Medidas
Algumas pessoas ligadas ao PT e mesmo gente que participou do BloguemusMG condenaram a situação, exigindo resposta satisfatória do partido e de pessoas do próprio evento. É preciso destacar essas exceções antes de falar da infeliz regra: sim, houve um certo "abafa". Além disso, quanto aos que estão quietos, relativizando, tratando o caso como algo menor ou usando o truque do “isso está na justiça” (para não precisar tratar do tema), é FUNDAMENTAL lembrar a fúria com que lidaram e lidam com humoristas que fazem piadas que consideram "machistas".
Rafinha Bastos, por exemplo, foi apedrejado por praticamente todos os progressistas – escolham o blog de sua predileção e procurem pelo nome do humorista. Levou também no twitter e assim por diante. Até uma marcha foi parar em seu clube de comédia. Mas o membro do CQC nunca estuprou ninguém, tanto menos uma enteada de nove anos. Ele fez uma piada cujo conteúdo foi contestado – algo legítimo (para ambos).
Considerando TODA essa reação sobre uma piada, a lógica autorizaria imaginar reações beligerantes contra alguém EFETIVAMENTE CONDENADO pelo crime de estupro contra a própria enteada. Não foi o que houve. Não é o que acontece.
Um exemplo: Maria Frô. Ela se diz feminista e alega que luta pelo direito das mulheres. Ok, ok. Uma busca pelo Google revela quatro páginas (de pesquisa; muitas mais de seu blog) com resultados referentes a Rafinha Bastos. Uma verdadeira militante da causa? Depende. O ex-dirigente petista e organizador do encontro progressista mineiro, condenado sob acusação do estupro da enteada de nove anos, mereceu apenas uma menção – nada sobre a prisão, mas sim divulgando o encontro em MG (em tempo: agora são duas menções, pois a blogueira reproduziu nota de repúdio da comissão da mulher do PT).
No twitter, por fim, ela respondeu assim a quem buscava esclarecer a história e cobrava dos progressistas uma postura ao menos coerente:
Façamos as contas: reação contra Rafinha Bastos vs. reação contra o ex-dirigente do PT condenado por estupro. Sem dúvida, o resultado dessa comparação é péssimo e bem desigual.
Reações Gerais
Alguns condenaram não apenas o ato, mas também os fatos de que aparentemente o condenado figurasse ainda como dirigente do PT e, além disso, participasse da organização do tal evento. A seguir, algumas das reações (de todos os tipos, foi o que conseguimos encontrar ao procurar pela história):
Por fim…
Evidentemente, ainda há tempo de sobra para que os progressistas – TODOS – provem que lutam por uma causa, e não em nome de um partido. Se falaram o que falaram por conta de piada, aguarda-se infinitas páginas condenando um caso de estupro.
Os blogueiros progressistas tratarão esse caso na mesma proporção com que reagiram a piadas proferidas num show de humor? Ao contrário de uma grita maior, sobretudo comparando a gravidade dos dois fatos, há verdadeiro silêncio – ou algo bem próximo disso. Nada de textos, nada de tweets condenatórios veementes, nada de abaixo-assinado, marca etc.
É obviamente ridículo acusar qualquer progressista de "cumplicidade", e talvez de fato não soubessem de nada até o dia da prisão. Ok, acontece. Mas e agora, que sabem de tudo? Ficarão em silêncio? Usarão aquela máxima do "está tudo na justiça" (ou variantes)?
A piada de quem se discorda politicamente é mais ofensiva que um colega-de-ideologia condenado por estupro da enteada de nove anos? Definitivamente, não.
Então por que o silêncio, progressistas?
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