sexta-feira, 1 de julho de 2011

"Poluentes do ar alteram células do sistema nervoso" - Agência USP | Rede Nossa São Paulo

"Poluentes do ar alteram células do sistema nervoso" - Agência USP
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Publicado em: 01/07/2011 - 11:15

O efeito nocivo dos poluentes também atinge o sistema nervoso, revela
pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Por meio de
experimentos com embriões de galinha, a bióloga Paula Bertacini
observou que o material particulado presente no ar da cidade de São
Paulo provoca alterações em células nervosas ainda em fase de
desenvolvimento embrionário.

A bióloga investigou o efeito do material particulado fino (PM 2.5)
sobre o desenvolvimento embrionário do sistema nervoso. "Na região
central da cidade de São Paulo, a principal fonte de emissão de
poluentes atmosféricos é veicular, ou seja, carros, ônibus, caminhões e
motocicletas", diz Paula. A coleta de amostras de poluentes aconteceu
próximo ao cruzamento da Avenida Doutor Arnaldo com a Rua Teodoro
Sampaio, onde está localizada a FMUSP, local de intenso tráfego de
veículos e próximo ao centro da cidade.

O experimento utilizou ovos embrionados de galinha produzidos
especificamente para pesquisas. "Uma suspensão com material particulado
fino foi injetada nos ovos", conta a pesquisadora. "Posteriormente,
foram analisados diversos aspectos morfológicos das células do
cerebelo, órgão do sistema nervoso central cuja sensibilidade a
substâncias tóxicas ambientais é descrita na literatura".

A pesquisa se concentrou nas células de Purkinje, neurônios que
desempenham papel central em várias das funções cerebelares. "Foi
observada redução no número das células de Purkinje ao mesmo tempo em
que os dendritos destas células apresentaram maior ramificação", aponta
Bertacini. "Embora não tenha sido o objetivo deste trabalho, é possível
que alterações morfológicas nos dendritos das células de Purkinje
causem interferência nas sinapses entre estas células e outras células
cerebelares e, consequentemente, tenha ação sobre o trânsito de
informações entre o sistema nervoso central e o organismo."

Estresse
A pesquisa também verificou variação nas moléculas envolvidas com o
processo de estresse oxidativo no encéfalo dos animais. "A ação dos
poluentes atmosféricos pode ocorrer por meio de mecanismos como o
estresse oxidativo e a inflamação", explica a bióloga. " O estresse
oxidativo é relacionado a danos celulares e, nos animais submetidos ao
PM2.5, quantidades superiores de substâncias envolvidas no processo
foram detectadas."

De acordo com a pesquisadora, as conclusões do estudo realizado em
embriões de galinha não podem ser extrapoladas para os seres humanos.
"Este trabalho é um estudo inicial que se propôs a avaliar os efeitos
de concentrações diversas do material particulado fino sobre o sistema
nervoso em desenvolvimento", observa. "Para isto, foram empregados
animais que oferecem uma relativa facilidade analítica".

"Pesquisas posteriores deverão envolver outros animais", ressalta
Bertacini. "A partir de estudos em camundongos, por exemplo, outros
parâmetros poderão ser avaliados inclusive com possibilidade de alguma
extrapolação para a espécie humana".

A pesquisa é descrita na tese de doutorado de Paula Bertacini realizada
na FMUSP e orientada pelo professor Paulo Saldiva, coordenador do
Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (LPAE). O Laboratório
tem uma trajetória em estudos relacionados à poluição atmosférica, com
trabalhos sobre os efeitos respiratórios, cardíacos e reprodutivos do
material particulado. O trabalho da bióloga é o primeiro no LPAE a
avaliar a ação dos poluentes atmosféricos no sistema nervoso central.
-- http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/16491


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